Folha de S. Paulo


No Japão, mostra lembra a primeira visita da família imperial ao Brasil

Beto Barata/Presidência da República
O imperador do Japão (dir.), Akihito, reúne-se com Michel Temer em outubro de 2016

Há meio século, o Brasil recebia a primeira visita oficial de representantes da família imperial japonesa. No dia 22 de maio de 1967, o então príncipe herdeiro Akihito (hoje imperador) e sua esposa, Michiko, desembarcaram em Brasília, depois de passarem por Argentina e Peru.

O momento era intrincado para a comunidade japonesa no Brasil, pois, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos nikkeis daqui não acreditaram que o Japão havia se rendido. Isso provocou choques com as autoridades brasileiras, gerando conflitos e prisões.

Então, a chegada de Akihito ao Brasil foi não só carregada de emoção, mas também cheia de simbolismo: ratificou-se os laços de amizade entre as duas nações e reconheceu-se o trabalho e o sofrimento dos imigrantes japoneses que escolheram o país para viver.

A extraordinária visita foi resgatada pela Embaixada do Brasil em Tóquio com a exposição "Construindo Vínculos Eternos: 50 anos da Primeira Visita de Suas Majestades ao Brasil".

A mostra pode ser vista até 10 de novembro —estava prevista para terminar em outubro, mas foi estendida a pedido da Casa Imperial para que membros da família nobre pudessem visitá-la.

A pesquisa feita pelo diplomata Augusto Souto Pestana durou cerca de um ano e, entre o material coletado, ele destaca as imagens e vídeos da visita do casal a Brasília e a maquete do Palácio do Itamaraty —que foi inaugurado em 1967 e teve o casal imperial como seus primeiros convidados oficiais.

Há entre o material de imprensa da época quatro capas da Folha, com manchetes sobre a visita histórica. Uma delas traz o título: "100 mil aplaudem Akihito".

CULTURA POP

Ainda falando em datas, dois ícones do mundo pop japonês fizeram aniversário recentemente e ganharam destaque na mídia.

O primeiro foi o mangá "One Piece", que após duas décadas de publicação continua popular e influente no Japão. O criador Eiichiro Oda é endeusado no país graças à saga, que já vendeu mais de 400 milhões de cópias e continua ganhando fãs em todo o mundo.

A história da série de quadrinhos centra-se em Monkey D. Luffy, líder da busca por um tesouro lendário, o One Piece, que o levaria a se tornar o rei dos piratas.

Outro desenho que faz aniversário é "Sailor Moon", que completou 25 anos desde o lançamento de seu primeiro anime e é sucesso também no Brasil. Para comemorar, o estúdio Toei Animation inaugurou em Tóquio a primeira loja permanente da série, que vende, claro, todo tipo de produto com a estampa das personagens.

MARCAS DO TSUNAMI

Muitas histórias da tragédia de 11 de março de 2011, quando um forte terremoto seguido de tsunami atingiu o nordeste do Japão, matando quase 20 mil pessoas, ainda emocionam.

Algumas são recontadas por Richard Lloyd Parry no livro "Ghosts of the Tsunami" (fantasmas do tsunami), recém-lançado pela Jonathan Cape no Reino Unido e, agora em outubro, pela Farrar, Straus and Giroux nos EUA.

Parry é editor de Ásia do jornal britânico "The Times". Ele combina um texto analítico sobre o desastre com um toque de jornalismo literário, romanceando personagens reais.

Uma das histórias mais marcantes é a da morte de 74 alunos e 11 funcionários da Escola Primária de Okawa, em Ishinomaki, na província de Miyagi.

A escola ficava a 5 km do litoral e bastava que as vítimas subissem a colina atrás dela para que as mortes tivessem sido evitadas. Havia cerca de 50 minutos para que tivessem tomado essa decisão.

Por que, pergunta Parry, os alunos de Okawa não foram levados a um lugar seguro? Ele ouviu autoridades, testemunhas, pais e professores para entender.

O jornalista lembra que, sete anos antes, técnicos contratados pela prefeitura tinham concluído que um tsunami, na pior das hipóteses, alcançaria apenas 3 km de distância do litoral.

Por isso, Okawa foi designada como centro seguro para evacuação, em caso de desastre.

Um dos relatos do livro choca: uma mãe, que correu para buscar a filha logo após o terremoto, conta que o professor fez pouco caso do perigo iminente. Chegou até a pedir que a mulher levasse logo a filha embora, dizendo que estava assustando os outros alunos.

EWERTHON TOBACE, 41, é jornalista, produtor e documentarista em Tóquio.


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