SOBRE O TEXTO Os poemas fazem parte de "Matemática", livro que será lançado pela editora portuguesa Chiado em agosto.
| Filipe Berndt | ||
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Prédios americanos
Quanto mais eu gosto de prédios baixos
mais eles gostam de prédios gigantes.
Desci todos estes dias pelas escadas
E subi também apesar dos problemas físicos.
Escondi isso dela.
Só não passei frio porque ela pensou nas roupas.
O cara do Nepal disse pra ela
Que o maior aquífero do mundo é no Brasil,
O segundo fica no Nepal.
Não gosto do nome deste País. Não ia gostar nada se ela ficasse presa
com este dalai de araque no elevador.
Fiz coisas comuns, fiquei com medo de me perder
O mesmo de quando eu me perdi de verdade.
Só não me perdi mais porque ela pensou nos tickets,
nos parques, nos truques.
Mas não me perco mais como antes.
Acho que é maturidade.
*
Barata americana
Desci todos estes dias pelas escadas do prédio velho, pela saída de serviço.
Não contei pra ela.
Velhos encanamentos, plumbers, ferro velho de pátina
descascando.
Latões, esconderijos do manda chuva, tênis allstar, calça americana,
Film noir... Sam Spade e Dashiell Hammett andando em dias frios e de neve preta nas ruas molhadas.
Descendo comigo -pela saída de serviço- do prédio americano,
uma cascuda barata, igual às nossas, mas nascida aqui,
arrogante, ciente de seu status de barata de primeiro mundo,
destemida no frio, andando com sotaque.
*
Nuvens americanas
Chovem igual,
desenham igual,
andam do mesmo jeito.
Numa coisa as nuvens americanas
são muito diferentes.
Repare nelas neste saguão de aeroporto,
imagine a nuvem americana pintada numa
porta velha arranjada em peças de demolição.
Depois lembre de quando a gente era jovem e
passeava com as crianças em velhos bairros descolados
sob nuvens americanas.
Reparou?
São muito diferentes de nós.
AIRTON BOVO, 57, escritor, autor de "O Carro dos Pés" (independente).
MARCIA DE MORAES, 36, artista plástica, lançou livro sobre sua obra pela editora Cobogó.