Folha de S. Paulo


A equipe de Trump chegando e a nova bolha imobiliária de Washington

Paul J. Richards - 5.jan.2017/AFP
A casa em que Ivanka Trump e sua família moram em Washington
A casa em que Ivanka Trump e sua família moram em Washington

Não seria plausível imaginar que, depois de chacoalhar um país inteiro com sua eleição, Donald Trump deixaria justamente Washington incólume.

Além das cortinas douradas que ele mandou instalar no Salão Oval e dos cartazes de protesto que, agora com mais frequência, são vistos nos arredores da residência presidencial, os novos tempos repercutem no mercado imobiliário.

Corretoras previam um aquecimento nas transações pela simples mudança no governo –saem milhares de funcionários da administração Obama, chegam milhares de servidores da gestão Trump em busca de casas e apartamentos.

Além disso, o perfil do novo presidente –um magnata do ramo imobiliário– e do grupo endinheirado que o cerca prometia uma procura pelo que o Distrito de Columbia tem de melhor a oferecer.

Os números não frustraram as expectativas. Para adquirir uma propriedade na capital, há que desembolsar hoje, em média, US$ 541 mil (R$ 1,7 milhões), um recorde. O valor é 7% maior que o aferido em fevereiro de 2016 pelo site especializado Zillow. Entram no cálculo de quitinetes a mansões.

Na rubrica específica das propriedades com cinco ou mais quartos, a elevação no último ano foi de 8%. Hoje, recebem-se as chaves desses latifúndios pela soma de US$ 1,5 milhão (R$ 4,7 milhões), em média. No mesmo período, o preço dos imóveis de um quarto subiu 3%.

No luxuoso bairro de Kalorama, uma mansão avaliada em US$ 5,5 milhões (R$ 17,1 milhões) foi alugada pela filha do presidente, Ivanka. A uma quadra dali, um casarão de US$ 5,3 milhões (R$ 16,5 milhões) terá como inquilina a família Obama até que a filha mais nova, Sasha, termine o ensino médio.

"SHE DID IT"

A cem metros dos portões da Casa Branca, a White House Gifts, loja de suvenires mais famosa de Washington, tem uma ala em promoção. A camiseta mais barata ali é uma vermelha em que se lê "She did it" (ela conseguiu). Quatro meses após a derrota de Hillary Clinton –e quase dois depois da posse de Trump–, é possível comprar a recordação, vendida em novembro por US$ 20,95 (R$ 65), pela pechincha de US$ 5,95 (R$ 18).

Também há canecas e chaveiros com a inscrição "Madame Presidente" oferecidos a preços mais camaradas que antes das eleições.

Quem não quiser passar recibo da derrota no Colégio Eleitoral e preferir enfatizar os quase 3 milhões de votos populares a mais recebidos pela democrata pode optar por camisetas com os dizeres "Não me culpe, eu votei na Hillary" ou "Ainda estou com ela". É queima de estoque! O que custava US$ 18,95 (R$ 59) sai a US$ 9,95 (R$ 31).

PASSADO E FUTURO

Para os saudosos de Obama e Michelle, há duas sessões na loja cheias de canecas, pratos, bolsas e camisetas com o rosto de toda a família. E vendem bem, segundo uma funcionária. O fato de eles não terem entrado na promoção parece confirmar isso.

Os suvenires de Hillary, contudo, não foram os únicos a encalhar. Grande parte das lembranças da posse de Trump, acompanhada in loco por menos do que as esperadas 900 mil pessoas, está pela metade do preço. Inclusive a camiseta "Eu estive lá".

AUTOAJUDA

O fenômeno Trump também agitou o mercado editorial. Em uma badalada livraria da capital, a Kramerbooks, biografias não autorizadas e volumes assinados pelo presidente dividem uma estante com livros de autoajuda, escritos a toque de caixa, ensinando incautos a lidar com o novo governo.

As 208 páginas de "The Trump Survival Guide" (o guia de sobrevivência a Trump; Dey Street Books), de Gene Stone, foram escritas em duas semanas para que o trabalho fosse publicado antes da posse do republicano. O manual está dividido em 12 tópicos, que vão de economia a imigração. Em cada seção, o autor lembra o que Obama fez no referido tema, o que Trump pode ou não mudar, e o que o leitor pode fazer.

Já o "What We Do Now - Standing up for Your Values in Trump's America" (o que fazemos agora - defendendo seus valores na América de Trump; Melville House) compila artigos de vozes anti-Trump, como os senadores democratas Bernie Sanders e Elizabeth Warren. O tom motivacional está expresso em títulos como "Você não está sozinho" e "Para onde vamos".

ISABEL FLECK, 34, é correspondente da Folha em Washington.


Endereço da página: