Folha de S. Paulo


Os campeões dos Coliseus portugueses

Um canta com sotaque do sul, e outro com do norte. Sem nenhum disco gravado a meias, os músicos António Zambujo (que vocês bem conhecem pela sua mestiçagem entre o fado-canção e a MPB) e Miguel Araújo (que começou como guitarrista da banda Os Azeitonas antes de se lançar a solo) estão incrédulos com o que lhes aconteceu.

Prometendo um espectáculo minimalista, só duas vozes e duas guitarras, os dois conseguiram a proeza de quase esgotar 17 concertos nas duas salas mais emblemáticas de Portugal, os coliseus de Lisboa e do Porto. Os espetáculos começaram no Coliseu de Lisboa e quarta passada até este domingo (21). Partirão no dia 24 para o Coliseu do Porto, mais tarde regressarão ao de Lisboa por mais uns dias e voltarão depois ao do Porto. Darão concertos até 28/3.

Carlos Cecconello - 21.mai.11/Folhapress
Roberta Sá e António Zambujo no Festival Natura Nós, na Chácara do Jóquei, em São Paulo
Roberta Sá e António Zambujo no Festival Natura Nós, na Chácara do Jóquei, em São Paulo

É verdade que Daniela Mercury já fez cinco concertos seguidos no Coliseu em Lisboa, mas com portugueses nunca se tinha visto nada assim. Uma das datas esgotou em duas horas, depois de terem estado a promover na Rádio Comercial, onde cantaram ao vivo.

Embora a canção mais célebre de Miguel Araújo a solo seja "Os Maridos das Outras" (bit.ly/1oHupni) –com o refrão "Toda a gente sabe que os homens são feios/ Mas os maridos das outras não/ Porque os maridos das outras são/ O arquétipo da perfeição/ O pináculo da criação"– que se tornou viral com variadas versões da letra espalhadas pelo YouTube (bit.ly/1Qjqhq7), ele é também o autor de "Valsa Redonda", que canta num dos seus discos em dueto com Marcelo Camelo, e da canção "Pica do Sete" (do último disco de Zambujo) que conta a história de uma jovem apaixonada pelo revisor do elétrico, o homem que valida os bilhetes. Juntos são agora os campeões do Coliseu.

Em abril, Zambujo voltará ao Brasil, onde está a fazer um disco de versões de canções de Chico Buarque, algumas escolhidas pelo compositor, e que conta com a sua participação (já gravaram juntos "Joana Francesa"). O disco sai no final do ano. Quem já ouviu Zambujo a cantar "Carolina" ou em dueto com a fadista Carminho em "Sabiá" ou "Sem Fantasia" sabe que só poderá resultar bem.

EM BERLIM FOMOS MUITOS

Foi a maior representação portuguesa de sempre na 66ª Berlinale, o festival de cinema que este domingo termina. O destaque vai para "Cartas da Guerra", realizada por Ivo Ferreira, que adapta o livro "D'Este Viver Aqui neste Papel Descripto - Cartas da Guerra de António Lobo Antunes". São as cartas que o alferes Lobo Antunes –jovem médico a serviço do Exército português que combatia na Guerra Colonial em Angola– escreveu à sua mulher, Maria José, entre 1971 e 73.

O filme a preto e branco foi parcialmente rodado em África. Tem Miguel Nunes como ator principal e é da produtora O Som e a Fúria, que já levou o vencedor "Tabu", de Miguel Gomes. É um filme que esteve para não acontecer, paralisado quatro anos por vários motivos, entre os quais a falta de subsídios por causa da crise em Portugal.

Estiveram também filmes de Salomé Lamas ("Eldorado XXI", rodado nos Andes), da dupla luso-suíça Sérgio Costa e Maya Kosa ("Rio Corgo", que venceu o DocLisboa) e de Hugo Vieira da Silva ("Posto Avançado do Progresso", também rodado em Angola, adaptação da obra de Conrad) e as curtas "Freud und Friends", de Gabriel Abrantes, e "Balada de um Batráquio", de Leonor Teles.

NO TERREIRO DO PAÇO

Será Lisboa o sítio onde todos querem estar? David Beckham esteve por cá a gravar um anúncio para a marca sueca de roupa H&M que inclui cenários como o Cais do Sodré, a barbearia Figaro's e o Terreiro do Paço (com direito a um striptease, bit.ly/1OeMsGm). Consta que Lisboa é agora a cidade onde muitos estrangeiros com poder de compra de obras de arte passaram a ter a sua segunda residência. Por isso a capital portuguesa foi escolhida para acolher a primeira Feira Internacional de Arte Contemporânea (Arco) fora de Madri e acontecerá de 26 a 29/5 na Cordoaria Nacional. A ArcoLisboa terá o mesmo diretor, o espanhol Carlos Urroz, e já tem confirmada a presença de 40 galerias.

SEM TEMPO PARA RESPIRAR

Mas a cidade prepara-se também para ser em 2017, e pela segunda vez, a Capital Ibero-americana da Cultura. A proposta, aprovada por unanimidade, será formalmente ratificada em junho em La Paz. A coordenação global e a programação cultural estarão a cargo do programador António Pinto Ribeiro, conhecido de muitos brasileiros porque até abril de 2015 dirigia o programa "Próximo Futuro", da Fundação Gulbenkian. Com tanta agitação, Lisboa não tem tempo nem para respirar.

ISABEL COUTINHO, 49, é repórter do jornal português "Público".


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