Folha de S. Paulo


A ponte Mirabeau

SOBRE O TEXTO Este poema, escrito em 1912, é um dos mais famosos do autor de expressão francesa nascido em Roma e, como tal, teve várias versões em português. Nelson Ascher apresenta, para a "Ilustríssima", uma nova tradução do texto, cujo original pode ser lido logo em seguida.

David Magila

Da ponte Mirabeau eu vejo o Sena
Passar e nosso amor
Lembrá-lo vale a pena
A alegria não vinha antes da dor

Venha a noite soe o sino
Vão-se os dias eu me obstino

Sigamos de mãos dadas face a face
E sob a ponte feita
De nosso abraço esvai-se
Exausta a onda sem fim de tanta espreita

Venha a noite soe o sino
Vão-se os dias eu me obstino

O amor como este rio vai-se e em seguida
Se perde na distância
É muito lenta a vida
E violenta demais toda esperança

Venha a noite soe o sino
Vão-se os dias eu me obstino

O tempo passa e arrasta em seu cortejo
A vida e o amor sem pena
E nada volta eu vejo
Da ponte Mirabeau passar o Sena

Venha a noite soe o sino
Vão-se os dias eu me obstino

*

Le Pont Mirabeau

Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Et nos amours
Faut-il qu'il m'en souvienne
La joie venait toujours après la peine

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

Les mains dans les mains restons face à face
Tandis que sous
Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l'onde si lasse

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

L'amour s'en va comme cette eau courante
L'amour s'en va
Comme la vie est lente
Et comme l'Espérance est violente

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

Passent les jours et passent les semaines
Ni temps passé
Ni les amours reviennent
Sous le pont Mirabeau coule la Seine

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

*

Escute Guillaume Apollinaire ler seus poemas "Le Pont Mirabeau" e "Marie" em gravações feitas entre 1911 et 1914.

Ouça no soundcloud

*

Léo Ferré (1916-93) canta sua versão musicada do poema

Léo Ferré (1916-93) canta sua versão do poema

GUILLAUME APOLLINAIRE (1880-1918) poeta francês precursor do surrealismo.

NELSON ASCHER, 58, é poeta e tradutor, autor de "Parte Alguma" (Companhia das Letras).

DAVID MAGILA, 36, é artista plástico.


Endereço da página: