Folha de S. Paulo


Diário de Washington - Classe média na disputa

Desigualdade social, quem diria, deve dominar parte da campanha republicana à sucessão de Barack Obama no ano que vem. É o que se conclui dos livros recém-lançados pelos presidenciáveis da oposição, conservadores que até há pouco diziam: "Basta trabalhar muito para ter sucesso neste país".

A classe média que teve de apertar o cinto é tema de "American Dreams: Restoring Economic Opportunity for Everyone" (Sonhos americanos: restaurando a oportunidade econômica para todos), do senador da Flórida Marco Rubio, e "Blue Collar Conservatives" (Conservadores de colarinho azul), de Rick Santorum.

Autor de "Unintimidated" (Desintimidado), o governador do Wisconsin, Scott Walker, atual líder nas pesquisas, se vende como homem simples. Sem curso universitário, filho de pastor, diz que acabou com a contribuição sindical obrigatória em seu Estado -enfraquecendo sindicatos- para "sobrar mais dinheiro para escolas e hospitais".

Em "One Nation: What We Can All Do to Save America's Future" (Uma nação: o que podemos fazer para salvar o futuro da América), Ben Carson, neurocirurgião superfamoso também pelos livros e pela filantropia, culpa o "politicamente correto" e o "elitismo" pelo "declínio" dos Estados Unidos.

O ex-governador da Flórida Jeb Bush, favorito pelo potencial bilionário de arrecadação de campanha, irmão e filho de ex-presidentes, deve lançar livro até maio. Em discurso recente, falou que "a classe média não viu grandes melhorias na renda" após a retomada.

Atacar a "gastança" de Obama com seu plano de saúde perdeu ibope entre a oposição. A popularidade de Obama subiu sete pontos nos últimos meses, auxiliada por um PIB que deve crescer 3,6% este ano e a maior geração de empregos desde 1999. O deficit público foi reduzido pela metade.

O eleitor americano independente, que é quem decide as eleições, tipicamente escolhe quem deve ocupar a Casa Branca a partir das fortalezas e das fraquezas históricas associadas a cada partido.

Quando se trata de segurança nacional ou de reduzir o deficit público, vota nos republicanos. Quando estes fracassam ou há clamor por programas sociais, vai nos democratas.
Desta vez, os republicanos indicam que, para voltar à Casa Branca, terão de demonstrar compromisso em repartir o bolo.

FBI NO CHÃO

Até para os padrões de Washington, onde boa parte da arquitetura dos últimos 50 anos se encaixaria fácil no antigo bloco soviético, a sede do FBI se destaca pela feiura e impenetrabilidade -coerente com a função do serviço secreto.

Graças a um boom imobiliário na área central da capital, que passou de muito violenta a segura e desejada nos últimos anos, o governo decidiu demolir o edifício brutalista J. Edgar Hoover, batizado em homenagem ao fundador da agência, inaugurado em 1974.

Para isso, criou-se um concurso: ganha o direito de uso do terreno de 28 mil m² do FBI (duas vezes o do Conjunto Nacional, em São Paulo) quem bancar a construção da nova sede, que abrigará 11 mil funcionários num subúrbio da capital.

As incorporadoras candidatas devem ter pelo mínimo US$ 1 bilhão para começar a obra e ter experiência na construção de pelo menos três grandes prédios na última década. E paciência: a demolição só ocorrerá com a nova sede pronta, daqui a estimados oito anos.

TRUMP DE LUXO

Outra oportunidade imobiliária foi arrematada pelo magnata Donald Trump. Ele vai investir US$ 200 milhões para restaurar o antigo Palácio dos Correios de Washington e fazer dele hotel de luxo. Para sorte de quem gosta de arquitetura, Trump só poderá mudar os interiores, preservando a fachada de sua "assinatura" estética.

MACONHA

Primeira mulher negra a comandar a prefeitura da capital, a democrata Muriel Bowser, 42, anda se estranhando com o Congresso americano, controlado pela oposição republicana. Coube a ela, que tomou posse em janeiro, implementar a descriminalização da maconha em Washington mês passado.

Deputados republicanos a ameaçam de processo criminal por "desrespeitar leis federais". Ela se defende, dizendo que o resultado do plebiscito sobre a maconha em novembro passado (71% dos votos), tem que ser respeitado.

RAUL JUSTE LORES, 39, é correspondente da Folha em Washington.


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