Folha de S. Paulo


Diário de Londres - As gôndolas da capital inglesa

2014 tem colocado Londres nas alturas. Cidade mais cara do mundo para morar, com o maior número de milionários e bilionários, a mais visitada pelos turistas e a mais desejada para trabalhar.

Quem mora aqui tem de se virar. Pode parecer contraditório: afinal, por que todo mundo quer morar e trabalhar em Londres sabendo que a cidade é considerada tão cara?

Já que viver em Londres é uma maravilha, grande parte da população tem mudado a rotina para que o salário caiba no bolso e na cozinha. A tendência é visível nos supermercados e tem dominado o debate nas casas e nas ruas nos últimos meses. Um turista talvez nem perceba, mas as pessoas em Londres estão indo mais vezes às gôndolas e comprando pouco, só para o dia, sem estocar, à espera de promoções que, de fato, existem.

Em algum dia da semana, por exemplo, o suco de 2,50 libras vai estar 1,90, desde que você compre dois. É óbvio e manjado em qualquer lugar do mundo, mas em Londres virou regra. É saber e entender o jogo da prateleira. Com um supermercado em cada esquina, e transporte público eficiente, é fácil atravessar a rua para conferir o preço na concorrência.

Ninguém tem tempo nem dinheiro a perder. "É o maior desafio que já vi no mercado em 30 anos de carreira no setor", disse Mike Coupe, diretor do Sainsbury's, uma das maiores redes britânicas.

Ou seja, Londres é cara, óbvio, mas quem mora aqui precisa reagir de algum jeito. E as principais redes de supermercados sentiram na pele: caíram as vendas, os lucros e estão tendo de se mexer.

As pequenas e agressivas redes alemãs Aldi e Lidl, que vendem muitos produtos de marcas próprias, estão deixando no sufoco os tradicionais Tesco, Morrison, Asda e Sainsbury's. Desde o dia 13, a Aldi aceita pagamento com cartão de crédito (não era possível antes), mirando a classe média. O Morrison reagiu e anunciou mais benefícios do seu cartão de pontos.

VEM PRA CÁ VOCÊ TAMBÉM

Pesquisa feita pelo Boston Consulting Group com 200 mil pessoas em 189 países coloca Londres no topo como cidade preferida por estrangeiros para trabalhar. Bateu Paris, Nova York, Sidney, Roma, Berlim e Cingapura, por exemplo.

Um em cada seis dos entrevistados mencionou a capital do Reino Unido. Especialistas apontam não só as oportunidades de trabalho como atrativas mas também a oferta cultural e a qualidade de vida. Estima-se que 3 milhões de estrangeiros vivam em Londres.

Os turistas internacionais fizeram 8,5 milhões de viagens a Londres no primeiro semestre deste ano, 7,6% a mais do que no mesmo período de 2013. Nada mais, nada menos do que 5,3 bilhões de libras (algo em torno de R$ 20 bi) foram gastos por essas pessoas.

Em termos de números absolutos de turistas, a previsão das autoridades é de 18,7 milhões em 2014.

BALADA NO METRÔ

Andar de ônibus pela madrugada de Londres é uma experiência pela qual todo turista precisa passar. Como não tem metrô durante a madrugada, o segundo andar dos ônibus vermelhos vira uma festa. É gente de todo tipo: bêbada ou sóbria, rica ou pobre, britânica ou imigrante.

Mas a festa deve diminuir a partir de setembro de 2015, pelos menos aos finais de semana.

O prefeito Boris Johnson anunciou que o tradicional metrô de 150 anos passará a funcionar entre 0h30 e 6h dos finais de semana. Pelo menos cinco linhas vão operar em trens a cada dez minutos. Espera-se que 180 mil pessoas usem os vagões nessas madrugadas.

PÍLULA DA BEBIDA

A terra do pub e do pint agora deve ter a pílula antiálcool. Foi o que o NHS, sistema de saúde do Reino Unido, anunciou neste mês.

O remédio, chamado nalmefene, promete reduzir a vontade de beber e deve ser distribuído para quem ingere doses altas de álcool diariamente.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o índice de consumo considerado elevado de bebida é de 1,7 litro de cerveja por dia (com nível alcoólico de 5%) para homens, e de 1,14 litro para mulheres.

Cerca de 600 mil pessoas devem receber o comprimido, para que o tomem uma vez ao dia.

Apesar da euforia com o anúncio, as autoridades alertam: não se trata de cura. Não há milagres.

LEANDRO COLON, 34, é correspondente da Folha em Londres.


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