Folha de S. Paulo


Sophia Loren: como Cary Grant me implorou para ser sua amante

Cartas da atriz revelam como o astro de Hollywood a cortejou quando os dois estavam filmando na Espanha

Quando a jovem Sophia Loren, no papel de Juana, dança um flamenco sensual no filme "Orgulho e Paixão", de 1957, a multidão de camponeses que a cerca parece fascinada. Mas não menos que Cary Grant, que fez o papel do herói inglês da história. Agora o público vai descobrir o que o ator estava pensando de fato quando olhou Sophia Loren bater os pés e rodar a saia.

A estrela de cinema italiana, que no mês passado completou 80 anos, foi atraída para um caso de amor tórrido com Grant durante as filmagens na Espanha. Seu livro de memórias, a ser lançado em algumas semanas, vai revelar os detalhes íntimos de como o ídolo das matinês a cortejou no set de filmagens, apesar de ser 30 anos mais velho que ela e estar casado com sua terceira mulher.

Xinhua
Sophia Loren e Cary Grant em foto de 1958
Sophia Loren e Cary Grant em foto de 1958

No primeiro volume de sua autobiografia, cuja criação foi motivada pela descoberta de um "tesouro" de cartas e suvenires em sua casa na Suíça, Loren recorda que Cary Grant queria que eles orassem juntos por uma luz para saber se deveriam abandonar seus respectivos parceiros.

"Você estará em minhas orações", ele escreveu, usando um tom reverente, quase espiritual, e mandando buquês de flores diariamente à atriz. "Se você pensar e rezar comigo, pela mesma coisa e com a mesma finalidade, tudo vai dar certo e a vida será boa."

Sophia Loren estava prestes a se casar com o produtor de cinema Carlo Ponti e se viu diante de uma escolha que moldaria sua vida pessoal e profissional. Cary Grant a pediu em casamento enquanto rodavam o filme de aventura romântica, baseado num romance de C.S. Forester ambientado durante as guerras napoleônicas. O novo livro de Loren vai incluir fotos das outras cartas de amor que Grant lhe enviou. Uma delas diz: "Perdão, menina querida. Estou fazendo pressão demais. Reze –também vou rezar– até a semana que vem. Até breve, Sophia. Cary."

Loren, cujo nome de batismo era Sofia Villani Scicolone, cresceu em Pozzuoli, uma cidade pobre nos arredores de Nápoles. Seu livro de memórias, "Yesterday, Today, Tomorrow", vai relatar sua infância e adolescência difícil. Quando era adolescente magérrima, apelidada de "palito", ela pedia comida a soldados americanos. Posou para fotos em Roma e então ganhou um concurso de beleza, sendo coroada "La Regina del Mare" (Rainha do Mar). Foi quando ela chamou a atenção de Ponti, que era 22 anos mais velho e se tornaria seu mentor, seu diretor e, mais tarde, seu marido, por 40 anos.

Falando dois anos atrás, Loren explicou que naquela época estava à procura de uma figura paterna, mas tinha que ser o homem certo. "Eu tive que fazer uma escolha, sabe? Carlo era italiano, ele fazia parte de meu mundo. Eu sabia que, para mim, ficar com ele era a coisa certa a fazer."

"Não me arrependi de nada na época. Eu estava apaixonada por meu marido. Eu era muito afetuosa com Cary, mas eu tinha 23 anos de idade. Não consegui me decidir a me casar com um gigante de outro país e deixar Carlo. Eu não quis dar aquele passo grande."

Mas o dilema representado por Cary Grant não desapareceu. Em 1958 o ator e Loren viraram alvos dos colunistas de fofocas de Hollywood quando atuaram juntos na comédia romântica "Tentação Morena". A história era ambientada em Washington e baseada numa ideia da mulher de Grant, Betsy Drake, que inicialmente deveria estrelar o filme. Quando o casamento de Cary Grant se deteriorou, Sophia Loren tomou o lugar de Drake como estrela do filme, e a tensão sexual entre ela e Grant levou o diretor Melville Shavelson a dizer, mais tarde, que tinha sido difícil fazer o filme.

Quando Loren vinha filmar, os jornalistas evidentemente se rendiam ao seu encanto tanto quanto acontecia com Cary Grant. "Poucos homens que a encontram conseguem falar com coerência sobre ela -não nas 24 horas seguintes, no mínimo", escreveu Harry MacArthur, do "Evening Star" de Londres.

O título do livro de memórias de Loren é tirado da antologia cômica italiana em três partes "Ontem, Hoje e Amanhã", dirigida por Vittorio de Sica em 1963, em que ela representou três papéis diferentes. Nas palavras da própria autora, é uma coletânea "de memórias inéditas, anedotas curiosas, pequenos segredos contados, todos os quais nasceram de uma caixa encontrada por acaso, uma caixa do tesouro cheia de emoções, experiências, aventuras".

A caixa continha fotos nunca antes vistas, cartas e bilhetes de Frank Sinatra –amigo de longa data de Sophia Loren, e que também atuou em "Orgulho e Paixão"–, Audrey Hepburn, Richard Burton e Marcello Mastroianni. Um dos relatos cândidos é de como Sophia repeliu com firmeza as investidas de Marlon Brando quando eles estavam filmando "A Condessa de Hong Kong", de 1967.

"De repente ele pôs as mãos em mim. Eu me virei com toda tranquilidade e assoprei seu rosto, como uma gata que é acariciada a contrapelo, e falei: 'Nunca mais ouse fazer isso. Nunca mais!"

"Quando eu o fulminei com os olhos, ele pareceu pequeno e indefeso, quase uma vítima de sua própria notoriedade. Ele nunca mais voltou a fazer aquilo, mas depois disso foi muito difícil trabalhar com ele."

Dois anos atrás a turbulência que cercou as filmagens de "Orgulho e Paixão" foi tema de um programa de rádio aclamado da BBC4, "The Gun Goes to Hollywood". Escrito por Mike Walker, foi uma tentativa fictícia de narrar a história dos bastidores daquele filme, incluindo a decisão de Sinatra de deixar a produção antes da hora e o romance entre Grant e Loren, visto pelos olhos de um roteirista assistente convocado para ajudar.

Acredita-se que Sinatra aceitou o papel de sapateiro e líder rebelde para ficar perto de sua mulher, Ava Gardner, que estava filmando "E Agora Brilha o Sol" na Europa, num momento em que o casal passava por problemas. Não tendo conseguido reconciliar-se com Gardner, ele deixou a Espanha, pedindo ao diretor Stanley Kramer que encurtasse sua participação ao máximo.

Tradução de CLARA ALLAIN


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