Folha de S. Paulo


Na Turquia, implantes de barba para demonstrar virilidade

O "turismo" de implantes mantêm os cirurgiões cosméticos e as agências de viagens de Istambul ocupadas, oferecendo barbas e costeletas másculas

O florescente setor turco de turismo de turismo de saúde está enfrentando uma situação cabeluda. Já se tornou comum há muito tempo oferecer implantes de cabelos para os homens de crânio desguarnecido, mas agora os implantes de barba estão ganhando popularidade, e homens insatisfeitos com a sua cobertura facial hoje visitam a Turquia para aproveitar os serviços que ela tem a oferecer nesse ramo.

Um médico chamado Tulunay diz que os implantes de barbas e bigodes começaram a ganhar popularidade dois anos atrás, e que entre 10 e 15 dos 60 pacientes a que atende mensalmente para implantes de cabelos agora solicitam também implantes de barba. A maioria deles provém do Oriente Médio.

"Para quem nasce na Turquia e nos países árabes, ter pelos no rosto é um traço associado à masculinidade, e sua ausência pode causar dificuldades sociais. O idioma turco tem uma palavra para isso, 'köse', ou calvície facial, e não se trata de uma característica vista de modo positivo", disse Tulunay. "Empresários nos visitam para implantes de barbas e bigodes, porque dizem que seus parceiros de negócios não os levam a sério caso eles não ostentem pelos faciais".

Ali Mezdegi, um cirurgião cosmético que trabalha no ramo há mais de 10 anos, disse que muitos de seus pacientes solicitam implantes antes de se casarem com a segunda, terceira ou quarta mulher. "Cabelos bastos são um símbolo de status, um sinal de força e virilidade", ele disse. Árabes, principalmente dos países do Golfo Pérsico, constituem 75% de sua clientela.

Irfan Atik, gerente geral de uma agência de turismo que se especializa em pacotes de viagens para implantes de cabelo, estima que pelo menos 50 turistas árabes cheguem a Istambul a cada dia para realizar esse tipo de procedimento. Os pacotes custam cerca de US$ 2,3 mil e incluem custos médicos e de estadia durante os quatro dias que o tratamento requer.

Embora a maioria dos clientes de Atik provenha dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Arábia Saudita, Catar, Kuwait e Iraque, ele espera estender seus negócios a países europeus, especialmente o Reino Unido, mas lamenta que a falta de cabelo pareça ser uma moda mais aceitável na Europa do que no Oriente Médio.

Mezdegi diz que metade de seus clientes chegam a ele encaminhados por agências como a de Atik, ou por outros pacientes.

A crescente influência da Turquia no mundo árabe transformou o setor de turismo do país, agora dominado pelos árabes: mais de quatro milhões de turistas dos países árabes visitaram a Turquia em 2011, ante 700 mil em 2001.

"Muitos dos meus visitantes dizem o quanto amam [o primeiro-ministro turco Recip Tayyip) Erdogan", conta Atik. "Gostam da postura dele sobre a Palestina e dizem que é forte, um homem de verdade". Mas ele admite que até o momento nenhum pediu o bigode "amendoado" que Erdogan ostenta, tipicamente usado pelos militantes do AKP, o partido governista turco.

Embora bigodes como o do ator turco Kadir Inanir ou o do cantor curdo Ibrahim Tatlises há muito sejam a referência para os pelos faciais masculinos na Turquia, agora muitos pacientes querem barbas ralas como a do galã televisivo e modelo Kivanç Tatlitug, ou a do ator Kenan Imirzaglioglu, conhecido pela beleza máscula.

Tulanay está convicto de que a imensa popularidade dos programas de TV turcos no Oriente Médio está começando a ditar ideais de beleza. "Mas eu só transplanto cabelo", diz. "Não cuido do penteado. Depois de uma cirurgia bem-sucedida de implante, um homem também pode cultivar uma barba longa como a de Marx, se preferir".

Os pacientes trazem suas parceiras para que elas opinem sobre o novo bigode ou barba? "Usualmente não, e se o fazem elas em geral não gostam muito de bigodes", disse Tulunay. "Creio que a masculinidade varie de acordo com a opinião de quem observa".

Tradução de PAULO MIGLIACCI.


Endereço da página: