Folha de S. Paulo


Videoinstalação de Sala produzida na África incita reflexão sobre linguagem

A segunda fase de "Momento Presente", exposição do albanês Anri Sala, chegará ao Instituto Moreira Salles Paulista em janeiro, trazendo obras que já passaram pela sede carioca do IMS em 2016.

A partir da quarta-feira (24/1), passam a ser exibidas seis novas obras do artista, como a videoinstalação "Làk-Kat", produzida no Senegal.

No filme, um adulto faz com que três garotos repitam palavras em uólofe, idioma predominante na África Ocidental.

Os vocábulos abordam inicialmente conceitos de escuridão e claridade, e progridem para termos descritivos de tons de pele e expressões para se referir aos estrangeiros.

"Neste filme as legendas carregam a problemática das cores e do aumento do preconceito", explica Sala.

Seu intuito, diz, é trazer à tona a discussão sobre a influência da colonização de países como Portugal, Inglaterra, Espanha, França e Holanda sobre o idioma das colônias.

Assim, subverte a ordem usual do audiovisual: a legenda, elemento que traduz as imagens e pode ser dispensável, torna-se protagonista.

Rodrigo Capote/Folhapress
O albanês Anri Sala, que também aborda a perspectiva do tradutor.
O albanês Anri Sala, que também aborda a perspectiva do tradutor em sua videoinstalação

O filme de 2009, que em sua primeira versão trazia legendas em inglês dos EUA e da Inglaterra, será transmitido em três painéis e cada um terá tradução em português de um país diferente: Brasil, Portugal e Angola.

Com o experimento, Sala evidencia transformações de sentido pela adaptação de uma palavra a outra realidade e destrincha curiosidades arraigadas na linguagem.

O termo "estrangeiro", por exemplo, ganha diferentes conotações em países que são alvo de fluxos de imigrantes. "A ideia do estrangeiro é de alguém que está dentro do país e não necessariamente alguém que esteja fora da fronteira", explica o artista.

O trabalho também aborda a perspectiva do tradutor.

Ao observar as legendas traduzidas para o espanhol da Espanha, do México, da Venezuela e da Argentina, Sala ficou intrigado com coincidências e disparidades.

Percebeu, então, contradições. "Uma legenda traduzia um dos termos para 'um pouco escuro', e outra, para 'um pouco claro'. Achei que um dos tradutores tivesse errado."

Diz, então, ter percebido que as legendas refletiam o referencial do tradutor. "Se a pessoa tivesse a pele mais escura, traduziria para 'levemente claro'; se tivesse a pele mais clara, traduziria para 'levemente escuro'.


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