Folha de S. Paulo


Crítica

Jovens promissoras dão brilho a filme espanhol candidato ao Oscar

Divulgação
Cena do filme 'Verão 1993', candidato da Espanha ao Oscar 2018 na categoria filme em língua estrangeira
Cena de 'Verão 1993', candidato da Espanha ao Oscar 2018 na categoria filme em língua estrangeira

VERÃO 1993 (muito bom)
(Estiu 1993)
DIREÇÃO Carla Simón
ELENCO Laia Artigas, Paula Robles, Bruna Cusí, David Verdaguer
PRODUÇÃO Espanha, 2017, 12 anos
QUANDO em cartaz, veja salas e horários de exibição

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"A família é um enigma", disse a diretora espanhola Carla Simón sobre seu filme, "Verão 1993", que chega agora ao circuito brasileiro.

"A família", prosseguiu ela, "é uma constante fonte de inspiração porque são relações que você não escolhe e que tem que se esforçar para entender".

Custa acreditar que "Verão 1993" seja o primeiro longa-metragem de Simón, 31, tamanha a segurança narrativa apresentada pela cineasta, assim como o seu talento para a direção de atores.

Uma hipótese para estreia tão bem-sucedida é que Simón, também responsável pelo roteiro, tinha clareza incomum sobre a história que pretendia contar. "Verão 1993", afinal, diz respeito a sua própria infância e suas relações familiares.

Anos depois da morte do pai, Frida (Laia Artigas), de 6 anos, perde a mãe, ambos vítimas de Aids.

A menina deixa, então, a cidade de Barcelona para morar em um sítio no interior da Catalunha com os tios, Esteve (David Verdaguer) e Marga (Bruna Cursí), e uma prima mais nova, Anna (Paula Robles), de apenas 4 anos.

Tomada por tristeza e perplexidade, Frida não sabe como reagir à nova disposição familiar. E quem saberia?

Tampouco os tios convertidos em pais estão preparados para recebê-la, embora pareçam bem-intencionados. O arranjo afetivo, afinal, se revela mais complexo do que o casal pressupõe.

Um filme que aborda a infância e a morte sempre enfrenta o risco de afundar no sentimentalismo. "Verão 1993", porém, consegue escapar da armadilha.

Os acertos começam por uma aposta firme nas imagens. Os diálogos dizem muito, mas as imagens dizem mais. Tensões se revelam sob o silêncio da natureza exuberante do verão da Catalunha, cenário das brincadeiras das meninas Frida e Anna.

Não se pode, contudo, mencionar a força expressiva do filme sem citar a presença das crianças, especialmente Laia Artigas.

A diretora e sua equipe souberam como deixa-las à vontade, especialmente Laia. Mas pouco adiantaria essa condução cuidadosa se a protagonista não fosse um talento extraordinário. Durante grande parte do filme, a câmera está muito próxima de Laia, cujos olhares alternam arrebatamento, melancolia, medo, curiosidade.

Se "Verão 1993" acumula prêmios na Europa, como o de Melhor Primeiro Filme no Festival de Berlim, os méritos são sobretudo da diretora Carla Simón e da atriz mirim Laia Artigas, duas espanholas de futuro promissor.


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