Folha de S. Paulo


Crítica

Segunda temporada de 'The Crown' cresce com crise de casal

THE CROWN (ótimo)
QUANDO: a partir desta sexta (8) na Netflix

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O elenco, o cenário e o figurino continuam os mesmos. Mas os personagens mudam, e muito, da primeira para a segunda temporada de "The Crown".

O drama da Netflix conta a história, baseada em fatos reais, da monarquia inglesa, centrada na rainha Elizabeth 2ª, que está no trono britânico desde 1952, quando assumiu, aos 25 anos.

O ano em que esta segunda temporada começa é 1956, e o casamento real, ocorrido em 1947, está em crise.

A primeira cena do primeiro episódio se passa em Lisboa, com Elizabeth e o marido tendo uma conversa dura, uma "DR" em que a rainha deixa claro: não está bom para nenhum dos dois, mas divórcio não é uma opção.
Ele bufa, reclama e pede um gesto dela.

O drama volta no tempo até antes da viagem de Philip (Matt Smith), que topa fazer uma turnê de cinco meses a bordo do histórico iate Real Brittania para visitar vários países do Commonwealth.

Ele está animado com a aventura. Um pouco animado demais, como fica claro mais adiante.

Philip, aliás, que parecia um personagem secundário na primeira temporada, vira quase um protagonista, quase um vilão nesta segunda. E o faz com verdade.

Ele é um homem muito orgulhoso para aceitar que a mulher é quem está no comando, e ela gostaria de obedecer a seu marido, como todas as outras mulheres que ela conhece. Mas essa versão é impossível para esse casal.

Três episódios depois, com a audiência tendo tomado conhecimento da natureza da irritação da rainha, a cena passa de novo, agora com o devido contexto.

A crise no casamento virou assunto dos tabloides, e os rumores só fazem crescer. Além de resolver a questão íntima, o casal tem que dar um jeito de acalmar a opinião pública.

PIMENTA

A rainha, interpretada magistralmente pela atriz inglesa Claire Foy, aos poucos vai ficando mais à vontade em seu papel. Mas quem dá a pimentinha para essa temporada é a princesa Margaret (Vanessa Kirby), que faz noitada atrás de noitada e está louca para dar um jeito de se casar, seja por amor ou não.

A irmã mais nova da rainha sai quase toda noite, bebe até cair e fuma desde que acorda de manhã.

Uma visita do presidente americano John Fitzgerald Kennedy (Michael C. Hall) e da primeira-dama Jacqueline Kennedy (Jodi Balfour) traz um pouco de competição feminina para o mundo da rainha, quase sempre rodeada só de homens. O casal "real" americano vem trazer um tico de modernidade para o palácio de Buckingham.

Mas é nos detalhes que a série se faz imperdível.

Em uma cena, quando a mulher de um amigo de Philip ameaça pedir divórcio do marido, o que pode (e vai) causar uma tempestade na imprensa, Elizabeth decide encontrá-la.

A monarca pede um carro e vai à casa dela, fica sentada no banco de trás, sem seguranças nem ser incomodada, até que a mulher chegue em casa.

Escrita quase toda pelo autor inglês Peter Morgan, "The Crown" é uma adaptação e continuação da peça "The Audience" e também do filme "The Queen", ambos criados por ele e ambos com Helen Mirren no papel principal.

O filme, de 2006, trata da resposta tardia e algo fria da rainha depois da morte da princesa Diana (1961-1997).

O conhecimento do autor da família real é enorme, e isso aparece em cada episódio, em cada detalhe.

Essa segunda temporada é muito superior à primeira, coisa difícil de acontecer. É das melhores coisas atualmente em cartaz na televisão, se não a melhor.

Assista ao trailer

trailer the crown


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