Folha de S. Paulo


Sebastião Salgado entra para a Academia de Belas Artes francesa

Fabio Braga/Folhapress
O fotografo Sebastiao Salgado durante entrevista no Instituto Terra
O fotografo Sebastiao Salgado durante entrevista no Instituto Terra

Pela primeira vez, um brasileiro ingressa na Academia de Belas Artes da França.

O fotógrafo Sebastião Salgado tomará posse em Paris, nesta quarta (6), na cadeira do também fotógrafo Lucien Clergue (1934-2014).

Salgado conta em entrevista à Folha que contratou, para a cerimônia -na qual vestirá um traje assinado pelo estilista Pierre Cardin-, uma empresa que fornecerá caipirinha e quitutes brasileiros, de maneira a representar o país.

Criado há dez anos, o setor fotográfico da academia é um dos menos numerosos entre as 52 cadeiras da instituição. Além do brasileiro, outros três profissionais o compõem: os franceses Jean Gaumy e Yann Arthus-Bertrand e o marroquino Bruno Barbey.

"Lutamos por mais dois fotógrafos para sermos um grupo de seis, o que nos tornaria mais representativos", diz.

Conhecido pelas imagens em preto e branco que refletem, em sua maioria, problemas sociais, Salgado vive em Paris desde os anos 1960, mas vem ao Brasil com frequência.

Nos últimos quatro anos, ele se dedica ao trabalho com tribos indígenas na Amazônia, sobre o qual pretende continuar por mais dois anos.

Os cliques mais recentes dele foram feitos entre os korubos, conhecidos como "índios caceteiros". "Eles usam cassetetes, em vez de arco e flecha", explica o fotógrafo.

O primeiro contato feito com os indígenas do oeste da Amazônia é relativamente recente -data de 1992. Sebastião Salgado diz, no entanto, que não gostaria de ser o responsável pelo primeiro contato de nenhuma tribo.

Aos 73 anos, ele é considerado um dos mais importantes fotógrafos brasileiros. Porém ele não vê um futuro tão longo para a sua profissão.

"Hoje não se faz fotografia, se faz imagem", diz. Fotografia, para ele, é algo que se guarda e se pode tocar. Já a imagem, afirma ele, é uma forma de comunicação.

"A pessoas fazem selfies para postar e depois nada é guardado. A fotografia tem um caráter de memória." Selfies, aliás, não o agradam. "Meu ego ainda não solicitou que eu me fotografasse."

"Até uns quatro anos atrás, eu ia a um lugar público e as pessoas conversavam, havia uma troca", lamenta.

"Depois do Instagram e do Facebook, a quantidade de pessoas que querem tirar um retrato para se colocarem nas redes é uma coisa incrível."

VOTO EM BRANCO

Formado em economia no Espírito Santo, ele se preocupa com atual crise econômica brasileira.

Sebastião Salgado afirma que, em 2018, pretende votar em branco -e estimula participação semelhante. "Aconselho todos os brasileiros a votarem em branco, para começar tudo de novo."

Além da questão político-econômica, ele lamenta que nunca um brasileiro tenha vencido um Prêmio Nobel. "Nós não temos cultura, a nossa ainda é incipiente."

Entretanto, Salgado mostra otimismo com as prisões de políticos acusados de corrupção. "Na época do Collor [presidente entre 1990-1992], nenhum dos recursos desviados voltou, e quase nenhuma daquelas pessoas foi para a cadeia."

"Desde criança, se cantava no Carnaval sobre um país de ladrões", relembra. "As coisas estão evoluindo e eu tenho esperança de que melhorem."


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