Folha de S. Paulo


Conpresp adia decisão sobre torres de Silvio vizinhas ao Oficina pela 2ª vez

O Conpresp, órgão municipal de patrimônio, adiou pela segunda vez a decisão sobre a construção de torres de Silvio Santos no terreno vizinho ao Teatro Oficina, no bairro paulistano do Bexiga.

Marcada originalmente para semana passada (27/11), a decisão foi postergada para esta segunda (4), quando foi novamente adiada, indefinidamente, por decisão do conselho (cinco votos a dois).

No início da reunião, o conselheiro Ronaldo Berbare, que representa o licenciamento na SMUL, propôs que o conselho segurasse a decisão até que o Iphan, órgão federal de patrimônio, desse o seu posicionamento.

A conselheira Mariana Rolim, que representa o Departamento do Patrimônio Histórico, afirmou que há no Iphan um parecer contrário à construção, que foi judicializado pelo Grupo Silvio Santos.

Durante a reunião, o presidente do conselho, Cyro Laurenza, mencionou uma reportagem da revista "Exame", publicada na quarta (29), que afirma que as decisões nos órgãos de patrimônio de São Paulo têm descartado pareceres técnicos e priorizado a liberação de empreendimentos imobiliários. Laurenza negou as afirmações.

Ele também fez uma defesa contra uma carta aberta divulgada recentemente pelo IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) de São Paulo em que a entidade afirmava que o conselho vem "privilegiando pautas de interesses privados".

O instituto tem assento no órgão e seus representantes anteriores renunciaram em outubro. Em artigo publicado na Folha, eles afirmaram que "as discussões no conselho se mostraram aceleradas" e que "estudos técnicos muitas vezes foram descartados".

Na semana passada, o IAB ainda entrou com um mandado de segurança por abuso do Conpresp.

Isso porque, na reunião de segunda (27), as novas representantes da entidade ainda não haviam assumido o assento no conselho. Uma liminar foi concedida a favor do IAB, mas, como não houve notificação judicial a tempo, a sessão prosseguiu.

CONDEPHAAT

O embate no Conpresp vem após outra decisão: no fim de outubro, o Condephaat, órgão estadual de defesa do patrimônio, reverteu uma decisão de 2016 que proibia a construção das torres da Sisan.

O empreendimento precisa passar por aprovação das esferas municipal, estadual e federal de defesa do patrimônio, já que a área está no entorno do Oficina. O edifício do teatro, projeto da arquiteta arquitetado por Lina Bo Bardi, é tombado pelo patrimônio histórico desde 1983.

Segundo o Oficina, as torres "encaixotariam" o teatro, que tem como uma das principais características uma grande janela em uma de suas laterais. O grupo propõe a construção de um parque no terreno —já tramita na Câmara um projeto de Lei, de autoria do vereador Gilberto Natalini (PV), para criar uma área verde no local.

ACIRRADO

O embate entre o Grupo Silvio Santos e o Teatro Oficina já dura 37 anos, mas ganhou novos contornos nos últimos meses.

No fim de outubro, a Folha revelou, na coluna de Mônica Bergamo, um vídeo de uma reunião entre o apresentador, o prefeito João Doria e Zé Celso, diretor do Oficina. Nele, Silvio fala em tom jocoso que levaria a Cracolândia para o terreno.

Assista ao vídeo

Após a publicação, um outro almoço para debater o assunto foi cancelado. De acordo com Zé Celso, Doria teria dito que ele deveria conversar diretamente com o apresentador e que o diretor não deveria ter divulgado à Folha um vídeo.

No último dia 26, o Oficina convocou um ato contra as torres da Sisan. Também participaram a comissão Salvar o TBC, a Casa de Dona Yayá e outros espaços culturais do bairro que contestam a especulação imobiliária na região.


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