Folha de S. Paulo


Novo livro reúne as memórias de Renato Aragão

História parece não faltar na vida o advogado cearense Renato Aragão, que estreou no cinema em 1965 com o curta "A Pedra do Tesouro", de Roberto Farias, e chegou a lançar dois filmes por ano de 1979 a 1990, quando Zacarias morreu.

O grupo Os Trapalhões atingiu a lista das dez maiores bilheterias com seis longas. Na TV foi líder de audiência antes mesmo de chegar à Globo, onde ficou por 18 anos.

Líder do grupo, Aragão era a cabeça criativa e administrativa que ditava os rumos do quarteto com Mussum, Dedé e Zacarias, relata o livro "Renato Aragão: do Ceará para o coração do Brasil", do jornalista Rodrigo Fonseca.

A obra traz, entre outros aspectos, uma nova versão sobre a separação do grupo em 1983. À época, Aragão afirmou à revista "Playboy" ter saído do episódio como vilão –ele, hoje com 82 anos, permaneceu sozinho em cena.

"Houve um momento em que a gente não podia nem olhar pra cara do outro que brigava. Por um processo de saturação total, de desgaste. A gente trabalhava muito, muita coisa..." Segundo ele, os colegas divergiram sobre a divisão do faturamento.

Agora, em seu depoimento a Fonseca, Aragão fala em diferenças criativas. A obra cita o resultado ruim do filme de Mussum, Zacarias e Dedé, como catalisador da reconciliação em 1984. Mas o autor não se aprofunda no tema.

"Você sabe que toda história tem diferentes pontos de vista. Este é o relato de como eu vivi este episódio", resume Aragão à Folha. Rodrigo Fonseca diz que o livro não é sensacionalista, de fofocas ou intrigas, mas de "acontecimentos e realizações".

As lembranças do humorista são divididas em capítulos curtos entremeadas por reflexões ao melhor estilo autoajuda do próprio Renato Aragão.

"É o homem das mil façanhas. É o homem que escreve, o homem atleta, o homem da caridade, o homem ator, do humor, empreendedor, cinéfilo, o homem que encara teatro com 80 anos. O que o livro mostra é que, mais que um grande humorista, ele é o homem da escrita Renato escreveu todos os argumentos, ele pensava situações para o grupo aparecer, triava oportunidades", diz Fonseca.

Renato Aragão - Do Ceará Para o Coração do Brasil
Rodrigo Fonseca
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Para quem é fã e acompanhou o trabalho do grupo do final dos anos 1970 até a sua dissolução nos anos 1990, o livro não traz revelações surpreendentes, mas as recordações do trapalhão pode agradar.

Há diversos comentários sobre os colegas também, sempre elogiosos. A postura, por vezes altiva à época, agora é dominada pelo paz e amor.

Aragão faz elogios ao sacrifício no papel de escada de Dedé, tido como menos engraçado. "Não é esperado que o público compreenda essas nuances do trabalho artístico. Nós é que temos que compreender o nosso público."


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