Folha de S. Paulo


Antes pouco nobre na agenda teatral, segunda-feira cresce em SP; veja peças

Tradicionalmente um dia fraco e pouco nobre para a programação teatral, a segunda-feira vem ganhando força entre as produções e os espaços culturais paulistanos.

Um levantamento feito pela Folha a partir do banco de dados de teatro do "Guia" mostra um salto, no último triênio, no número de espetáculos que estrearam temporadas às segundas em São Paulo. Foram de 41, em 2015, para 63 no ano seguinte. Neste ano, somam 91 (em projeção até dezembro).

O número de casas também teve um leve crescimento: de 24 a 29 —ainda que duas tenham fechado no período.

Segundo artistas e administradores de espaços, é um dia que compete menos com as programações culturais da cidade e uma alternativa à falta de salas em teatros.

"Com teatros fechando, viramos um porto seguro", diz Valdir Rivaben, coordenador da Oficina Cultural Oswald de Andrade, que recebe peças de segunda a sábado.

Segundo ele, muitos artistas preferem se apresentar às segundas. É o caso do ator Daniel Warren, que neste ano fez três temporadas, em casas distintas, do monólogo "Pontos de Vista de um Palhaço", dirigido por Maristela Chelala. Sempre no início da semana.

Um projeto pessoal do ator, o espetáculo foi pensado para a data, diz ele, para encená-lo enquanto estivesse com outro trabalho maior —no caso, "A Visita da Velha Senhora", com sessões de quinta a domingo no Sesi. "E as segundas têm um perfil diferente de público, mais interessado."

Lígia Jardim/Divulgação
Daniel Warren fez três temporadas às segundas do monólogo 'Pontos de Vista de um Palhaço
Daniel Warren fez três temporadas às segundas do monólogo 'Pontos de Vista de um Palhaço'

O produtor Ricardo Grasson, que comanda com o ator Caco Ciocler o Centro Compartilhado de Criação, na Barra Funda, comenta que a plateia do início da semana vai bem além da própria classe artística (que costuma ir ao teatro na data, quando está de folga).

"Geralmente é um público focado, que pesquisa os trabalhos. Também recebo muitos casais e jovens que fogem do trânsito da sexta e das filas dos finais de semana."

Para Paulo Faria, diretor do Pessoal do Faroeste, "as sextas têm se tornado o pior dia para o teatro paulistano, muito por conta do trânsito" —a sede do grupo, na Luz, abre às segundas há cinco anos.

BOA OCUPAÇÃO

A frequência no início da semana tem sido grande. "Nós nos surpreendemos", diz Ivam Cabral, diretor-executivo da SP Escola de Teatro. Inaugurada em 2012, a sede da praça Roosevelt abriu sessões às segundas porque às sextas havia um conflito com aulas.

Mas a data se mostrou produtiva: tem, em média, mais público (quase 70% da lotação) do que os domingos (metade da capacidade). Só perde para os sábados, que costumam ter ingressos (60 lugares) esgotados.

Na Oswald de Andrade, acontece algo semelhante. Os sábados são o dia de maior plateia, com média de 350 pessoas, mas as segundas vêm em seguida, com 250. O restante da semana atinge 240.

A procura ainda se reflete na crise e na dificuldade de manter pequenos teatros. "Sem patrocínio, você não pode abrir só de quinta a domingo", afirma Arnolfo Pimenta, à frente do Viga Espaço Cênico, em Pinheiros que aluga duas salas para sessões em todos os dias da semana.

Ali, a locação às segundas, por sinal, tem média de preço (ele não revela o valor) igual à das sextas, perdendo apenas para sábados e domingos.

Grandes centros também têm se voltado à data. O Sesc Consolação há oito anos reserva seu espaço beta para sessões no início da semana. Desde 2013, o Centro Cultural Banco do Brasil abre às segundas (e fecha às terças). O Sérgio Cardoso há três anos recebe nesse dia espetáculos como "Cartola - O Musical" em seu teatro de 835 lugares.

"A ideia é que o teatro não feche", diz Alexandra Golik, do Viradalata, que incorporou as segundas há um mês.

Por vezes, a demanda vem do entorno. O grupo Redimunho estreou "Tareias" (2015) às segundas porque a peça dialogava com a região da sede, no Anhangabaú. Deu certo e a data seguiu no calendário.

Algo parecido aconteceu com um espaço vizinho, o Instituto Capobianco, que mapeou o público do bairro. "Tem gente que sai do trabalho estressado e vê o teatro como terapia", conta Fernanda Capobianco, diretora da casa.

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história

Nos anos 1950, quando as temporadas costumavam ser longas, com sessões de terça a domingo, o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) mantinha o Teatro das Segundas-Feiras, espaço dedicado a produções de vanguarda e que teve à frente o polonês Zbigniew Ziembinski (1908-78), um dos principais nomes a consolidar o teatro brasileiro moderno.

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PEÇAS EM CARTAZ ÀS SEGUNDAS-FEIRAS EM SÃO PAULO

Alice, Retrato de Mulher que Cozinha ao Fundo
Com Nicole Cordery, fala da relação entre Gertrude Stein e a cozinheira Alice B. Toklas

Biblioteca Mário de Andrade, r. da Consolação, 94. Seg.: 19h; até 27/11. Grátis

Aqui Jaz Henry
Na peça de Daniel MacIvor, Henry (Renato Wiemer) vê a mãe submissa ao pai alcoólatra

Teatro Pequeno Ato, r. Dr. Teodoro Baima, 78. Seg. e ter.: 21h; até 19/12. R$ 40

Bendito Seja Seu Maldito Nome
Inspirada nas obras do dramaturgo Plínio Marcos, a peça apresenta 14 personagens marginalizados

Oficina Cultural Oswald de Andrade, r. Três Rios, 363. Seg. e ter.: 20h, até 16/12. Grátis

Bicho
Georgette Fadel dirige o texto de André Sant'Anna, que questiona valores

Cia. do Feijão, r. Dr. Teodoro Baima, 68. Seg.: 20h; até 27/11. R$ 30

Carne de Mulher
Paula Cohen traz à tona a violência de gênero

Cemitério de Automóveis, r. Frei Caneca, 384. Seg.: 21h; até 11/12. Ingresso: R$ 40

Dostoiévski-Trip
Cibele Forjaz dirige a peça, sobre 'viciados' em literatura

CCBB, r. Álvares Penteado, 112. Seg., sex. e sáb.: 20h; dom.: 19h; até 18/12. R$ 20

Favor beber o Leite, Senão Estraga
A segunda peça do Coletivo Cronópio mistura teatro, dança e videoarte para contar a história de uma jovem que, no dia de seu aniversário, recebe a visita de um coelho

Teatro de Contêiner Mungunzá, r. dos Gusmões, 43. Seg.: 20h, até 27/11. R$ 20

Gotas de Codeína
O monólogo conta a história de Cesar, um homem casado que, apesar de aparentar gostar da vida que leva, está deprimido e pensa em se matar

Estúdio Lâmina, av. São João, 108, 4° andar. Seg. e ter.: 20h, até 28/11. R$ 30

Hospedeira e Paquiderme
Os dois monólogos discutem o conceito de normalidade e enfocam personagens que sofrem colapsos mentais

Centro Compartilhado de Criação, r. Brig. Galvão, 1.010. Seg.: 20h e 21h30; ter.: 20h e 21h30, até 12/12. R$ 30 a R$ 40

Noturno
Escrito por Oswaldo Montenegro, o musical da Oficina dos Menestréis usa canto, dança e performance para abordar, em esquetes, os vários aspectos da noite paulistana

Teatro Augusta, r. Augusta, 943, Seg.: 21h, até 27/11. R$ 30 a R$ 70

Oliver
Inspirado na lenda germânica de Doppelgänger e em jogos de videogame, o espetáculo acompanha Oliver, homem que se apaixona por sua vizinha e faz de tudo para conquistá-la

Oficina Cultural Oswald de Andrade, r. Três Rios, 363. Seg. a qua.: 20h, até 19/12. Grátis

Piche
Jovem de periferia é capturado e torturado por dois policiais milicianos. Indignada, uma multidão sai às ruas para interceder pelo garoto

SP Escola de Teatro, pça. Franklin Roosevelt, 210. Seg. e sáb.: 21h; dom.: 20h, até 11/12. R$ 20

A Serpente
Eric Lenate dirige a derradeira peça de Nelson Rodrigues

Teatro Viradalata, r. Apinajés, 1.387. Seg.: 21h, até 27/11. R$ 60

Sínthia
Dirigida por Kiko Marques, fala da incapacidade de aceitar o que não se conhece

Instituto Cultural Capobianco, r. Álvaro de Carvalho, 97. Seg. e ter.: 20h; até 19/12. R$ 20

Siete Grande Hotel
O porão do Hotel Cambridge é palco da peça do Redimunho, com histórias de exílio e luta

Espaço Redimunho, r. Álvaro de Carvalho, 75. Seg.: 20h. dom.: 19h, até 18/12. R$ 30

Solo que Luzia
O monólogo escrito e dirigido por Paulo Faria discute, do ponto de vista da personagem transexual Luzia, questões como sexualidade e empoderamento feminino

Sede Luz do Faroeste, r. do Triunfo, 301. Seg.: 21h30, até 18/12. Ingr.: contribuição voluntária

Unfaithful
O texto de Owen McCafferty trata de enganos e traições

Núcleo Experimental, r. Barra Funda, 637, Seg. e sáb.: 21h; dom.: 19h; até 18/12. R$ 40

Vocês que me Habitam
Em um consultório, o encontro entre uma médica e uma mulher faz com que venham à tona um forte desejo de liberdade

Oficina Cultural Oswald de Andrade, r. Três Rios, 363. Seg. a qua.: 17h e 20h, até 20/12. Grátis


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