Folha de S. Paulo


Retrospectiva do pioneiro da op art, Julio Le Parc, abre no Tomie Ohtake

"Você fala portunhol?", diz o argentino Julio Le Parc, 89, em uma das diversas brincadeiras que fez durante entrevista concedida à Folha.

O artista plástico, que beira os 90 anos, transmite esse jeito descontraído em parte de suas obras, que reproduzem movimento e fluidez.

Um dos pioneiros da arte cinética e da op art –movimento artístico em que as obras são principalmente baseadas na ilusão de ótica– ele é conhecido por constantes pesquisas que possibilitam a autonomia do espectador.

Por isso, entre as mais de cem obras expostas no instituto Tomie Ohtake, em mostra que abre neste sábado (25), é possível observar extensa variação de técnicas do artista.

"A cada adição de diferentes elementos cria-se uma situação nova ao espectador", explica Le Parc que está no Brasil para a mostra que faz uma retrospectiva da sua carreira de quase seis décadas.

Questionado se hoje em dia continua produzindo novas obras, ele esboça um sorriso e diz que, na verdade, "hoje não [pintou], mas ontem sim."

De telas a instalações, a mostra desperta diferentes sentidos no espectador, desde a sensação de profundidade das suas pinturas em tela à observação das obras compostas, basicamente, por luzes e espelhos. Além disso, há a possibilidade de interação em alguns dos trabalhos.

"É como se ele pintasse com a luz", diz a curadora Estrellita Brodsky, que expôs pela primeira vez "Julio Le Parc: da Forma à Ação", em Miami no final de 2016.

Segundo Brodsky, a mescla de tantos elementos nas obras do artista é fruto da vontade de Le Parc em não ser reconhecido por apenas uma técnica. "Ele abraça a mudança".

O artista vive em Paris desde 1958. Logo após sua chegada, ele se uniu a colegas que fundaram o coletivo Grupo de Pesquisa de Artes Visuais (GRAV), em 1960, que lutou pela participação direta do público em mostras.

Ele relembra que quando jovem percebeu que o mundo artístico era "o mais individualista possível".

A partir disso, o artista relata que o grupo trabalhava em conjunto, e, por isso tiveram relações em comum.

Foi a partir do grupo que o artista passou a trabalhar ainda mais com noções de movimento, como nos móbiles.

Um dos resultados deste grupo, como "Continuel Mobile" ("Mobile Contínuo, em português"), de 1963-1993, está na exposição.

"É incrível ver como Julio estava à frente do seu tempo ao fazer seu trabalho com o coletivo, que trouxe os jogos ao espaço dos museus e instalações com luzes material da sua prática", analisa Brodsky.

Após tanto tempo trabalhando no meio artístico, ele afirma que o que continua igual no seu trabalho foi "atitude de experimentação."

A maior preocupação de Le Parc é a criação ótica e direta com o espectador.

Para ele, essa relação sem mediadores é importante para que, no final da visita, o espectador consiga criar sua "própria percepção, sem necessidade de indicações ou fórmulas" além das obras.

REALIDADE VIRTUAL

Outra mostra de Le Parc também será aberta neste sábado em São Paulo, na galeria Nara Roesler.

As pinturas são parte da sua série mais recente, feitas entre 2016 e este ano, denominada "Alquimia", elas seguem o formato da op art, com telas compostas por cores vibrantes e em sua maioria com fundo preto. Além disso, a galeria conta também com esculturas do artista de 2004.

A exposição traz uma nova oportunidade ao visitante: com óculos de realidade virtual é possível passear por suas obras, trazendo ainda mais à tona a vontade do artista de interação e diálogo com o espectador.

"Meu pai já falava do virtual em suas obras desde os anos 1960", diz filho do artista plástico, responsável pela ideia, que cita algumas obras do pintor, como a "Trame en Moviment Virtuel", de 1965.

Julio diferencia a produção das duas mostras e reafirma sua busca por inovação."Muito do trabalho que será visto aqui [no Tomie Ohtake] já é um pouco mais arcaico, rústico e menos sofisticado".

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JULIO LE PARC: DA FORMA À AÇÃO
ONDE Instituto Tomie Ohtake - av. Brigadeiro Faria Lima, 201
QUANDO abre neste sábado (25) e vai até 25/2; ter. a dom., das 11h às 20h
QUANTO grátis

JULIO LE PARC
ONDE Galeria Nara Roesler - av. Europa, 655
QUANDO abre neste sábado (25) às 11h e vai até 7/2; seg. a sex., das 10h às 19h e sáb., das 11h às 15h
QUANTO grátis


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