POR QUE VIVEMOS (ruim)
DIREÇÃO Hideaki Ôba
ELENCO Katsuyuki Konishi, Ayumi Fujimura, Hideyuki Tanaka
PRODUÇÃO Japão, 2016, 10 anos
QUANDO estreia na quinta (23)
Veja salas e horários de exibição
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Nas últimas três décadas, a excelência das animações japonesas, conhecidas no Brasil como animês, esteve muito associada a Hayao Miyazaki, hoje com 76 anos.
Uma das viradas da carreira desse diretor de Tóquio aconteceu com a fundação do seu estúdio de animação, Ghibli. Lá foram produzidos filmes como "Meu Vizinho Totoro" (1988), "A Viagem de Chihiro" (2001) e "Vidas ao Vento" (2013).
Também japonês, Hideaki Ôba chegou a trabalhar com Miyazaki no Ghibli, mas pouco assimilou das lições do mestre, a julgar pela animação dirigida por ele "Por que Vivemos", agora ao circuito comercial do Brasil.
O filme de Ôba é uma peça de propaganda de uma das vertentes do budismo, a Terra Pura. Ao assumir essa linha doutrinária, "Por que Vivemos" se afasta automaticamente das ambiguidades narrativas e da imaginação visual com as quais Miyazaki tem fascinado crianças e adultos mundo afora.
O filme de Ôba se baseia em episódios verídicos do período feudal do Japão, no século 15. O personagem central é Ryôken, um agricultor que se sente responsável pela morte trágica de sua mulher, que estava grávida.
Ryôken trilha um caminho já conhecido: a culpa conduz à ira que, por sua vez, resulta em uma adesão crescente à religião. Ele acaba se tornando monge ao seguir rigorosamente o mestre Rennyo, que propaga os ensinamentos do Buda Amida, reverenciado pela Terra Pura.
Dez minutos de sermão de Rennyo são um aborrecimento para o espectador, seja ele budista ou não. E há ainda que suportar expressões repetidas como um mantra, como "o navio do voto da grande compaixão".
Muitos cinemas no Brasil já deixaram de existir, dando lugar a templos. As salas sobreviventes fariam bem se reservassem suas telas aos filmes, e não às pregações, sejam quais forem as religiões.