Folha de S. Paulo


Crítica

Atuação assombrosa de Val Kilmer desequilibra 'Boneco de Neve'

Divulgação
Val Kilmer, em cena do filme 'Boneco de Neve
Val Kilmer, em cena do filme 'Boneco de Neve'

BONECO DE NEVE (bom)
(The Snowman)
DIREÇÃO Tomas Alfredson
ELENCO Rebecca Ferguson, Michael Fassbender, Val Kilmer
PRODUÇÃO Inglaterra/Eua/Suécia, 2017; 16 anos
QUANDO estreia nesta quinta (23)
Veja salas e horários de exibição

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Diretor de filmes para a TV e longas para cinema elogiados só em seu país natal, o sueco Tomas Alfredson foi revelado internacionalmente com a bela história de horror "Deixa Ela Entrar" (2008), sobre uma vampirinha condenada à solidão de seus eternos 12 anos.

Muito se esperava da continuação de sua carreira, mas o longa seguinte, "O Espião que Sabia Demais" (2011), longe de ser um mau filme, foi decepcionante com sua trama de difícil compreensão e direção ríspida e pouco envolvente.

Chegamos então a "Boneco de Neve", com o qual Alfredson move-se pelo thriller mais convencional, com moderado sucesso. É na verdade um desses longas que servem para atenuar o terrível verão brasileiro, ao menos subliminarmente: há neve por todo lado, e o frio chega até nós, sobretudo com o ar condicionado do cinema em pleno funcionamento.

A trama se passa entre Oslo e Bergen, capital e segunda maior cidade da Noruega, respectivamente. Harry Hole (Michael Fassbender) é um detetive competente, mas em baixa pelo alcoolismo que enfrenta após ter se separado de Rakel (Charlotte Gainsbourg).

Eis que ressurge um caso não resolvido de um psicopata que mata mulheres e uma detetive iniciante chamada Katrine Bratt (Rebecca Ferguson), com enorme apetite para a investigação.

Harry e Katrina formam então uma dupla insólita, movida por desencontros e histórias não contadas, enquanto o serial killer corta cabeças para seus bonecos de neve.

Não é bem o tipo de policial em que dois agentes são forçados a trabalhar juntos e se descobrem parceiros após um tempo. Harry e Katrina investigam com frequência de modo independente. E são até irresponsáveis nesse assunto.

Talvez a maior questão do filme seja a paternidade. Ou como uma paternidade mal resolvida ou indesejada arruína todos à volta. Sobram vidas chamuscadas, até mesmo estilhaçadas por acontecimentos passados que provocaram feridas incuráveis.

Os atores contribuem para que o thriller seja envolvente. Fassbender está muito bem como o detetive problemático. Ferguson encarna com garra a detetive de sangue nos olhos.

Mas a performance de Val Kilmer como Rafto, o detetive problemático do passado e o primeiro a ter contato com o serial killer em questão, é um assombro. Principalmente porque ele trabalha no limite. Mais um pouquinho e fica insuportável sua interpretação, desequilibrando todo o elenco.

Ao contornar esse tipo de risco e atenuar problemas de roteiro Alfredson nos entrega ao menos um filme digno. Um ensaio em branco sobre coisas que não afundam no gelo.

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Assista ao trailer de 'Boneco de Neve'

Assista ao trailer de 'Boneco de Neve'


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