Folha de S. Paulo


Criador do Inhotim oferece obras de arte para bancar dívida com MG

Bernardo de Mello Paz, empresário que criou o Instituto Inhotim, ofereceu obras de arte em exposição no museu para saldar uma dívida com o governo de Minas Gerais. A proposta lista cerca de US$ 170 milhões em trabalhos de artistas renomados como Adriana Varejão e Cildo Meireles.

Entre as obras estão "Celacanto Provoca Maremoto", painel que imita azulejos portugueses, e a escultura "Linda do Rosário", ambas de Varejão. Foram oferecidas também "Inmensa", conjunto de cadeiras e mesas de Meireles, e "Gigante Dobrada", escultura de ferro de Amílcar de Castro.

A proposta foi divulgada pelo "Valor Econômico" e confirmada pela Folha. Todo o acervo do Inhotim é avaliado em US$ 1,5 bilhão.

O governo de Minas ainda vai estimar o valor exato das obras por meio de consultorias especializadas, mas, em uma avaliação inicial, a proposta foi classificada de "insuperável" pelo advogado-geral do Estado, Onofre Batista.

Nelson Almeida/AFP
Bernardo de Mello Paz, empresário que idealizou o museu Inhotim em meados dos anos 1980
Bernardo de Mello Paz, empresário que idealizou o museu Inhotim em meados dos anos 1980

Segundo Batista, a ideia do governo mineiro é manter as obras no museu. "Se o governo aceita, neste caso, por se tratar do Inhotim e da sua relevância para Minas Gerais, vamos desenhar um formato para cumprir a missão de garantir o funcionamento do Inhotim", disse.

A dívida de Paz com o governo, vinda de sua atividade na mineração, se arrasta por mais de 25 anos e chegou a R$ 500 milhões. Com a adesão ao Plano de Regularização de Créditos Tributários, lei estadual aprovada em julho que dá desconto para que devedores acertem suas contas, o montante cai para cerca de R$ 150 milhões.

A oferta de Paz, se convertida a reais, chega a R$ 550 milhões —mais que o triplo devido. A lei estadual aceita o pagamento de dívidas com obras de arte e prevê que, caso o valor do bem supere o valor da dívida, o devedor não tem direito à diferença.

Embora a oferta de Paz não ajude a cobrir o deficit nas contas de Minas Gerais, serve ao propósito do governo de preservar Inhotim, tido como importante fonte de receita por receber até mais visitantes que as cidades históricas.

"Não é uma questão de caixa. Se a gente não cuidar da galinha, pode perder toda a produção de ovos que Inhotim proporciona", afirmou Batista.

Batista avalia que há riscos que podem atingir o museu, como a incerteza após a condenação de Paz, em setembro.

LAVAGEM DE DINHEIRO

Paz foi condenado a nove anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro em movimentações financeiras de empresas das quais foi sócio. A defesa nega as acusações e já recorreu da sentença.

Com a propriedade de parte das obras, o governo quer assegurar que o Inhotim continue atraindo visitantes. Batista afirmou ainda que o processo de pagamento da dívida será judicializado e terá a participação do Ministério Público.

Segundo o Instituto Inhotim, "a negociação visa dar perenidade ao relevante acervo artístico em exposição no Inhotim, uma vez que um dos termos negociados com o Estado é a permanência das obras no museu, a título de comodato, sem possibilidade de serem removidas".

Atualmente, as obras de arte são de propriedade de Paz e são cedidas ao instituto a título de comodato. Em fevereiro, o empresário doou ao instituto todas as edificações e terrenos que formam a área de visitação do museu, com cerca de 140 hectares.

Além de investimentos de Paz e da verba de visitação, o Inhotim é financiado pelo governo de Minas e pela Lei Rouanet.


Endereço da página:

Links no texto: