Folha de S. Paulo


Crítica

Decurso do tempo anula pieguices de filme sobre bailarinas cegas

Divulgação
Geyza Pereira da Silva em cena do documentário 'Olhando para as Estrelas', do diretor Alexandre Peralta
Geyza Pereira da Silva em cena do documentário 'Olhando para as Estrelas', de Alexandre Peralta

OLHANDO PARA AS ESTRELAS (bom)
DIREÇÃO Alexandre Peralta
PRODUÇÃO Brasil/EUA, 2016, livre
QUANDO estreia nesta quinta (9)
Veja salas e horários de exibição

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À primeira vista, o documentário "Olhando para as Estrelas" insinua se restringir aos limites da comiseração, sentimento que não costuma resultar em bom cinema.

O filme acompanha as trajetórias de duas mulheres cegas, que dançam na Associação Fernanda Bianchini, em São Paulo, a única escola de balé voltada para deficientes visuais de que se tem notícia. Adulta, Geysa Macedo exerce a função de primeira-bailarina da companhia enquanto a adolescente Thalia Macedo dá seus primeiros passos na escola.

Ambas têm um perfil ao gosto dos programas de auditório e suas histórias de superação. Na TV aberta, a emoção tende a ser ligeira e pragmática: as lágrimas jorram na tela para arrancar o choro do telespectador.

O jovem diretor Alexandre Peralta lança mão desse recurso em alguns momentos, o que evidentemente prejudica o documentário. Por outro lado, "Olhando para as Estrelas" se fortalece com um aliado poderoso, o tempo.

O filme foi realizado ao longo de três anos, período suficiente para observar como as circunstâncias redesenham as personalidades. Inicialmente, Geysa demonstra persistência e coragem, características que se contrapõem à sua fragilidade física. A gravidez, contudo, a torna mais vulnerável. A promessa de felicidade, embalada com o casamento e a chegada do primeiro filho, ganha outra perspectiva.

Para Thalia, o pior da vida escolar é a hora do recreio, quando os colegas a deixam de lado. Fora de casa e da escola de balé, ela está sujeita às marcas do mundo, mas exibe força para se afastar da autopiedade e avançar para o ensino médio.

O uso desmedido de convenções dramáticas e estéticas poderia lançar o documentário no terreno dos registros dispensáveis. É o tempo, com suas mudanças bruscas e seus ajustes quase imperceptíveis, que torna "Olhando para as Estrelas" um filme digno.

Assista ao trailer de 'Olhando para as Estrelas'

Assista ao trailer de 'Olhando para as Estrelas'


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