Folha de S. Paulo


Cartas de amor de Carmen Miranda inspiram espetáculo 'Lovlovlov'

Lenise Pinheiro/Folhapress
A artista plástica Amelia Toledo na abertura da exposição 'Lembrei Que Esqueci'
O ator Diego Marchioro em cena do espetáculo "Lovlovlov"

Entre as correspondências de amor de Carmen Miranda (1909-55), algumas peculiaridades da escrita da cantora chamaram a atenção dos atores Diego Marchioro e Fernando de Proença: a transição (ao falar dela mesma) entre a primeira e a terceira pessoa, o uso constante de diminutivos e um tom juvenil e platônico.

Descritas por Ruy Castro em "Carmen: uma Biografia" (Companhia das Letras), as cartas, enviadas ao aviador carioca Carlos Niemeyer quando Carmen morava nos EUA, nortearam a pesquisa da peça "Lovlovlov", que chega nesta quinta (9) a São Paulo, após estrear em Curitiba.

Nos escritos, ela é "exageradamente afetiva. Uma mulher querendo muito o amor", diz Isabel Teixeira, que dirige a montagem e assina ao lado dos atores a dramaturgia.

Em cena, Marchioro e Proença ficam em cabines de vidro, cada uma virada para uma plateia (o público escolhe de qual lado ver a peça).

A estrutura foi inspirada no Museu Carmen Miranda, no Aterro do Flamengo, no Rio. Um espaço um tanto descuidado, segundo a equipe do espetáculo, e que traz o que sobrou de figurinos e balangandãs da cantora, protegidos por redomas envidraçadas.

A dupla de atores ora fala ao mesmo tempo, ora de forma intercalada. Entrelaçam o material das cartas com histórias deles próprios ou emprestadas (como a mitologia de Eros, que se apaixonou pela mortal Psiquê). E a narrativa transita por diferentes fases do amor: o encantamento, a cobrança e o término.

Tudo é costurado pela trilha sonora, com composições criadas para o espetáculo por Ná Ozzetti, com guitarras de Kiko Dinucci. Interpretada ao lado das "vitrines" por Edith de Camargo, as músicas e suas letras também transitam do auge ao declínio do amor.

Elenize Dezgeniski/Divulgação
A artista plástica Amelia Toledo na abertura da exposição 'Lembrei Que Esqueci'
O ator Fernando de Proença em cena do espetáculo "Lovlovlov"

Não se trata de uma biografia de Carmen, mas muito dela está lá. Há a plataforma, as unhas de cor rubra, o papel que, de carta, transforma-se em adereço de cabeça.

"Queríamos trazer essa Carmen que é às vezes desconhecida do grande público, apaixonada, precisando muito de amor e sem ser correspondida", conta Marchioro.

Com o aviador, a cantora conviveu dez dias em Los Angeles, e depois só mantiveram contato a distância, por um ano. Ela aos poucos percebeu a falta de interesse dele.

Em uma das cartas, ela escreve: "Eu tenho a impressão que se ele passar mais uns tempos longe 'delazinha'... ele varrerá ela completamente da cabecinha dele. Tenho quase certeza disso".

Segundo Teixeira, que aplica na peça sua pesquisa sobre a manipulação, também remete-se em cena a essa figura "enjaulada" no sistema do "show business" e na "política de boa vizinhança" (um estreitamento das relações entre os EUA e a América Latina durante a Segunda Guerra).

O resultado, para ela, é uma "história de amor e terror".

A pesquisa da equipe sobre figuras pop e a manipulação renderá outros dois trabalhos, "People Versus People" e "Coveiro", que utilizarão a mesma estrutura de vidro.

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LOVLOVLOV
QUANDO qui. a dom., às 19h15; até 19/11
ONDE Caixa Cultural São Paulo, pça. da Sé, 111, tel. (11) 3321-4400
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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