Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Feito por e para gringos, 'Pelé' parece se passar em país fictício

PELÉ - O NASCIMENTO DE UMA LENDA (regular)
DIREÇÃO Jeff Zimbalist e Michael Zimbalist
ELENCO Kevin de Paula, Leonardo Lima Carvalho, Seu Jorge e Milton Gonçalves
PRODUÇÃO EUA, 2016, 10 anos
QUANDO estreia nesta quinta (26)
Veja salas e horários de exibição

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Quem mandou deixar que gringos fizessem um filme de ficção sobre o início da trajetória do maior (desculpem, argentinos) jogador de futebol da história e um dos grandes atletas do século 20?

"Pelé - O Nascimento de uma Lenda" saiu um filme de gringos, para consumo de gringos, sobre um patrimônio que, no entanto, pertence um pouco a cada um dos brasileiros, sobretudo aos mais próximos do futebol.

As principais pegadas são de americanos: os produtores Brian Grazer ("Rush - No Limite da Emoção" e "Uma Mente Brilhante", com o qual ganhou o Oscar) e Colin Wilson ("Munique", "Avatar") e os diretores e roteiristas Jeffrey e Michael Zimbalist ("Favela Rising", "Os Dois Escobars").

E quanto o filme arrecadou nos Estados Unidos no lançamento, em maio? Pouco menos de US$ 50 mil, ou cerca de metade do que ganha Neymar em um dia pelo seu contrato com o PSG. Se já não funcionou lá, funcionará aqui?

Cópias dubladas talvez reduzam o efeito desnorteador de ouvir supostos brasileiros –incluindo crianças pobres– falando inglês, às vezes com uma palavra em português solta na frase para dar o "tempero" local.

Mas nem mesmo os diálogos em português serão capazes de evitar a sensação, provocada pelos elementos da recriação histórica, de que a história se passa em um país imaginário, e não no Brasil.

Parceiro de Darren Aronofsky ("Mãe!") desde o seu primeiro longa, o diretor de fotografia Matthew Libatique contribui, com seu trabalho de luz e câmera, para essa atmosfera falsa de sonho tropical.

A história, você sabe, é extraordinária. Da infância em Bauru ao triunfo na Copa do Mundo de 1958, acompanhamos os cerca de dez anos em que o menino Edson Arantes do Nascimento se transformou em Pelé.

Os atores (Leonardo Lima Carvalho, na infância, e Kevin de Paula, na juventude) dão conta do recado, e as crianças que fazem os amigos de Edson têm seus bons momentos nas aventuras de rua e de campos.

É no desenho dos personagens adultos em torno de Pelé que o filme mais pode incomodar quem conhece a história do futebol brasileiro, como nos casos do treinador Vicente Feola (Vincent D'Onofrio) e de Garrincha (Felipe Simas).

Não por culpa dos atores, mas da chamada liberdade poética com que foram reescritos os perfis de alguns personagens, os bastidores e também as cenas públicas da campanha vitoriosa de 1958 na Suécia.

Quem conta um conto aumenta um ponto, e nada contra esse procedimento universal de recriação de personagens e eventos históricos. O desafio é aumentar um ou mais pontos sem descaracterizar o conto.

E, dadas as enormes dificuldades de reencenação, é preciso registrar que as sequências de futebol estão próximas do padrão bem razoável de "O Milagre de Berna" (2003), que recria a trajetória vencedora da Alemanha na Copa de 1954, na Suíça.

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Assista ao trailer de "Pelé - O Nascimento de uma Lenda"

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