Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Reconstituição de Watergate em 'Mark Felt' é fidedigna, mas fria

MARK FELT - O HOMEM QUE DERRUBOU A CASA BRANCA (regular)
DIREÇÃO Peter Landelsman
ELENCO Liam Neeson, Diane Lane e Marton Csokas
PRODUÇÃO EUA, 2017
QUANDO estreia nesta quinta (26)
Veja salas e horários de exibição.

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O problema maior de filmar histórias já sabidas está na dificuldade de recriar fatos e ainda conseguir surpreender. "Mark Felt - O Homem que Derrubou a Casa Branca" propõe a reconstituição do papel desempenhado pelo agente do FBI conhecido como Deep Throat (Garganta Profunda) no caso Watergate, que culminou na renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974.

Depois de recriar os bastidores da morte de John Kennedy ("JFK, a História Não Contada") e de denunciar o risco de atletas sofrerem danos cerebrais ("Um Homem Entre Gigantes"), o diretor e roteirista Peter Landesman persegue o filão que Oliver Stone e Paul Greengrass, entre outros, exploraram com mais vigor.

Mark Felt vazou informações para os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do "Washington Post", responsáveis por noticiar em primeira mão as escutas clandestinas, o que derrubou Nixon.

A história, da perspectiva jornalística, serviu de base a "Todos os Homens do Presidente" (1976), paradigma de cinema político à americana que Landesman vem tentando rejuvenescer.

Agora, não se trata mais de buscar verdades, mas de representar o jogo político, no qual as disputas de poder entre o FBI, a CIA e a Casa Branca são mais decisivas do que o equilíbrio de forças ainda consideradas democráticas.

O retorno ao passado implica também alusões ao presente e às sombras e influências suspeitas em torno de quem atualmente ocupa a Casa Branca.

A primazia dada à fidelidade histórica, contudo, impõe uma frieza que o diretor-roteirista não consegue equilibrar com outros elementos.

Outro problema é a ausência de cenas de ação ou de suspense que façam elevar a tensão do filme.

A escolha de um personagem cuja movimentação aconteceu às ocultas faz a trama girar de modo muito exclusivo em torno das questões de inteligência, universo no qual os segredos se sobrepõem às emoções.

Após uma longa carreira ladeira abaixo como herói em filmes de ação, Liam Neeson interpreta o protagonista com uma máscara quase mortuária, o que dificulta nossa simpatia mesmo nos momentos em família, incluídos para humanizar o personagem.

Tudo bem que o principal objetivo do diretor seja denunciar a dominação do mundo pelos frios e calculistas, mas o cinza onipresente nos cenários, figurinos e atuações condena o filme antes disso ao apagamento.

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Assista ao trailer de "Mark Felt - O Homem que Derrubou a Casa Branca"

Assista ao trailer de "Mark Felt - O Homem que Derrubou a Casa Branca"


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