Folha de S. Paulo


Crítica

'Treze Meses Dentro da TV' relata sufocante isolamento na Globo

Karime Xavier/Folhapress
O escritor Adriano Silva em 2015
O escritor Adriano Silva em 2015

TREZE MESES DENTRO DA TV
AUTOR Adriano Silva
EDITORA Rocco
QUANTO R$ 34,90 (256 págs.)

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Publicado dez anos depois dos acontecimentos, "Treze Meses Dentro da TV" é o relato detalhado de um diretor que passou pelo "Fantástico" e se viu consumido pela estrutura que não conseguiu entender e/ou administrar.

Adriano Silva não esconde que escreveu para explicar a si mesmo como a trajetória bem-sucedida de executivo de mídia, que deixou o Grupo Abril a convite do Grupo Globo, terminou em demissão em tão pouco tempo:

"Decidi contar essa história para tirá-la de dentro de mim. Para olhá-la de frente, compreendê-la, dar a dimensão correta. E assim poder guardá-la de novo, com o tamanho justo, no lugar certo."

O texto é repetitivo. Não faltam autorrecriminações, mas estão mais para generalidades, como não mostrar confiança. Na mesma linha, sobram elogios à Globo, por exemplo, pelo histórico de contratar bons profissionais.

O que tem de mais revelador está no mergulho pormenorizado, como um espectador, no cotidiano de relações pessoais da corporação. Sem ação, sufocadamente "invisível", como repete tantas vezes, ele descreve o que vê.

É assim que retrata a experiência de ser "chefe da mulher do meu chefe" ou como "a equipe se aglutinava mais ou menos por preferências pessoais, como se fossem correntes políticas", no que chama de "ambiente insular".

A cena sufocante da demissão: "Subi à sala do diretor de jornalismo. Quando entrei, me deparei com meu chefe sentado lá. Ouvi do diretor que eles tinham analisado os problemas do 'Fantástico' e chegado à conclusão de que vários deles passavam por mim. Ele disse que as pessoas não me respeitavam, que riam das minhas sugestões".

Treze Meses Dentro da TV
Adriano Silva
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Empacotado como um manual para executivos, o livro chega então às lições a serem tiradas da experiência, "por que não deu certo". Entre as respostas insatisfatórias, aparece esta: "Eu não escolhi um par de mãos para beijar, em troca de apoio e proteção".

Em apêndice, Silva, hoje publisher do "Draft", que cobre economia pós-industrial, faz um diagnóstico da televisão, já em derrocada na época, mas com cada vez mais publicidade, no Brasil. Credita à "idiossincrasia" do chamado Bônus por Volume, mecanismo que vincula as agências à "maior pagadora de BV do mercado brasileiro".


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