Na música pop, a rentabilidade em torno da nostalgia parece ter se tornado uma escravidão, tamanha a quantidade de shows e turnês para celebrar álbuns clássicos.
Não é estranho então que o repertório do britânico Noel Gallagher, escolhido para abrir todas as apresentações do U2 no Brasil, seja em boa parte formado pelas canções de sua antiga banda, o Oasis.
Não é uma novidade. Nas outras duas vezes em que veio ao país em carreira solo, o passado estava ali. Agora, no entanto, num show mais curto, de apenas 11 músicas, a revisitação fica mais evidente: cinco faixas são do grupo que formou com seu irmão mais novo, Liam Gallagher, até 2009.
A escolha das canções antigas, conhecidíssimas, também revela a preocupação em agradar um público que está no Morumbi por outra razão.
O trio "Wonderwall", "Champagne Supernova" e "Don't Look Back in Anger", todas do álbum "What's the Story (Morning Glory)?", de 1995, mirava a simpatia dos fãs dos irlandeses, mas foram executadas em marcha lenta, quase em versões acústicas.
Poderia funcionar para shows em clubes de porte médio, mas não em um estádio como o Morumbi. As canções perderam peso com Noel no violão em vez de na guitarra.
Em "Champagne Supernova", que o britânico anunciou dizendo "vocês conhecem essa música, vocês amam essa música", o baterista conduzia o som só com pratos e bumbo, em versão arrastada, como se Noel e a banda que o acompanha, os High Flying Birds, tivessem pulado o café da manhã e o almoço.
Ainda assim, esses sucessos radiofônicos, principalmente "Wonderwall", ganharam a plateia. Durante a execução do hit, todos cantavam, celulares ao alto, casais se beijando e mensagens de voz enviadas pelo WhatsApp.
Além de outras duas faixas do Oasis, o lado B "Half the World Away" e "Little by Little", do disco "Heathen Chemistry", o guitarrista tocou sons de seus dois álbuns solo e a nova "Holy Mountain", com pegada mais dançante.
Com a ajuda de uma banda afiada e naipe de metais em algumas músicas, Noel abriu a apresentação com "Everybody's On the Run", seguida de "Lock All the Doors" e "In the Heat of the Moment", o que garantiu um início roqueiro e empolgante.
Para encerrar, tocou "AKA... What a Life!", dedicada ao atacante brasileiro Gabriel Jesus -Noel é torcedor fanático do Manchester City, clube no qual o jogador atua.
A primeira parte da noite nostálgica terminou então com um show aquém de uma apresentação em estádio, mas, ainda assim, uma ponte competente para a segunda parte da sessão de memórias, que mostrouria "The Joshua Tree", do U2, na íntegra.
*
SHOW NOEL GALLAGHER'S HIGH FLYING BIRDS (bom)