Folha de S. Paulo


Morre filósofo e professor emérito da USP Oswaldo Porchat, aos 84 anos

Unicamp
Oswaldo Porchat Pereira em foto de 2003
Oswaldo Porchat Pereira em foto de 2003

O filósofo paulista Oswaldo Porchat de Assis Pereira da Silva, um dos mais importantes do país e professor emérito da USP (Universidade de São Paulo), morreu neste domingo aos 84 anos.

Ainda não há informações oficiais sobre as causas e o local da morte.

Em nota, o departamento de filosofia da USP afirmou que "o significado da obra e da vida de Oswaldo Porchat para a história deste departamento e para o desenvolvimento da filosofia no Brasil não pode ser abarcado em poucas linhas." O velório será realizado no salão nobre da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP a partir das 8h desta segunda (16).

Nascido em Santos em 1933, ele estudou letras clássicas e direito, que abandonou para defender na França sua tese de doutorado sobre Aristóteles. Na Universidade de Rennes, foi discípulo do filósofo Gilles-Gaston Granger.

Teve contato com historiografia, lógica e epistemologia. A orientação foi o ponto de partida para a trajetória que levou o jovem brasileiro cerca de duas décadas depois a criar o Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Porchat era talvez o único filósofo cético brasileiro e foi um dos primeiros quatro mestres formados pela tradição francesa, ao lado de Bento Prado Jr., José Arthur Gianotti e Ruy Fausto. Nos anos 1970, afastou-se da USP e fundou o centro de lógica, filosofia e história da ciência. Voltou à USP em 1985. Em 2011, recebeu o título de professor emérito da instituição.

Ele afirmava ter encontrado no ceticismo clássico a oportunidade de conciliar a vida comum e a filosofia. Em entrevista à Folha em 1994, afirmou que "ser cético não era apenas criticar os dogmatismos filosóficos, mas também assumir a vida comum, libertando-a de todo o enfoque dogmático. Assumir a precariedade, a contingência, a não fundamentação, a impossibilidade de manter o absoluto como meta."

Nos anos 1990, teve papel importante no crescente debate sobre o ensino de filosofia do país. Fez diversas críticas e autocríticas acerca do peso dado à história da filosofia na formação de filósofos na USP.

Para o filósofo fiel ao método estruturalista de leitura de obras filosóficas, o estudante deveria pôr-se em contato com os textos filosóficos originais a fim de ter contato estreito com os mestres. Mas a corrente, segundo ele, se tornou castradora.

"Não nos teremos deixado dominar por um temor exagerado de que nossos estudantes se deixassem tentar pelo ensaísmo filosofante irresponsável, aconselhando-os, por isso, sempre e sempre a que lessem mais autores, conhecessem mais pontos de vista diferentes, estudassem mais textos, pesquisassem mais linhas de pensamento -adiando sempre, assim, suas elaborações filosóficas pessoais?", questionou em artigo publicado na Folha em 1998.

Autor de "Rumo ao Ceticismo" (Edunesp), de 2007, e "Vida Comum e Ceticismo" (Brasiliense), de 1993, entre outros. Deixa uma filha, Patricia.


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