Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Na SP debaixo d'água, Obelisco seria um farol

Divulgação
Obra exposta na exposição 'Barragem///SP
Obra exposta na exposição 'Barragem///SP'

Formado por arquitetos e artistas, o coletivo Barragem investiga questões territoriais urbanas. A instalação Barragem///SP apresenta a cidade submersa e cercada por uma grande barragem de concreto.

Combinando dados da grande enchente de São Paulo em 1929, do rompimento da barragem em Mariana (MG)com análises visuais do modelo 3D da cidade no Google Earth, o projeto modifica o território, reorganizando sua geografia e sociedade.

Nesse cenário, a metrópole que historicamente não soube lidar com seus rios sucumbe ao total desequilíbrio de águas extremadas e violentas em forma de tempestades constantes sobre seus vales –além da ameaça iminente da aproximação do mar pelo continente. A cartografia se deteriora então em frágeis e precárias ilhas isoladas.

Francisco Martins/Folhapress

Algo que já se verifica atualmente nos empreendimentos murados e bairros fortificados desconectados das ruas.

Neste cenário distópico, a água atinge o nível da piscina do estádio do Pacaembu - produzindo um alagamento de proporções atlânticas.

Bairros em antigas várzeas (como Barra Funda e Itaim Bibi) desaparecem. Sobram picos e espigões como o da Paulista, a colina histórica do Pátio do Colégio e uma sequências fragmentada de bairros e morros periféricos.

A enchente ficcional invadiria a nave da catedral da Sé, num finíssimo espelho d'água sobre o piso do altar. A praça sumiria e as escadarias afundariam na água turva. Anhangabaú, Tamanduateí, Tietê e Pinheiros se fundiriam num imenso lago –com dutos e tubulações cruzando a paisagem.

Francisco Martins/Folhapress

No trecho sudoeste, o parque do Ibirapuera estaria submerso. O Obelisco em ruínas seria convertido em farol para embarcações e balsas. De dentro de um escritório central –entre ruínas incompletas e estruturas abandonadas– interesses burocráticos apagam e reescrevem o mapa da cidade num palimpsesto. Manutenção e infraestrutura sofrem toda sorte de improvisos: entre as empenas, puxados, pontilhões, andaimes e roldanas presas por redes formam emaranhados de cabos e cordas numa arquitetura precária.

Os cidadãos-mergulhadores sobreviveriam em palafitas e construções tomadas por umidade e cracas. Nesta super-Veneza tropical, enfrentaríamos o permanente estado de "acqua alta".

As escassas comunicação e segurança se dariam por canais de TV, totens contendo câmeras e rádios piratas. Canais institucionais da barragem que alternam alarmes e vinhetas com entretenimento aquático.

A instalação provoca com uma metáfora: para além da possibilidade do descontrole climático, o que de fato representa a água turva que verte e faz a cidade desaparecer?

*

BARRAGEM///SP
QUANDO seg. a sex., das 9h às 21h, sáb., das 10h às 18h, até 28/10
ONDE Oficina Cultural Oswald de Andrade (r. Três Rios, 363)
QUANTO grátis


Endereço da página: