Folha de S. Paulo


Atrizes saem a público para acusar Harvey Weinstein de assédio sexual

David Walter Banks-8.dez.2015/The New York Times
Harvey Weinstein, 55, produtor de cinema americano
Harvey Weinstein, 55, produtor de cinema americano

As atrizes Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira Sorvino e Asia Argento acusaram o magnata do cinema Harvey Weinstein, 55, de assédio ou estupro. As denúncias contra ele –públicas ou anônimas– superam duas dezenas.

No domingo (8), ele foi demitido da própria empresa, a The Weinstein Company, após o jornal americano "The New York Times" revelar uma série de acusações de mulheres contra o produtor ao longo dos últimos 30 anos.

Ele pediu desculpas, mas negou denúncias de estupro ou retaliações. Em movimento lento e crescente, estrelas de Hollywood passaram a tratar publicamente do caso.

Jolie disse à publicação ter sido assediada em 1999 durante a divulgação do filme "Corações Apaixonados". Em seguida, disse, decidiu jamais trabalhar com ele e relatou o ocorrido a outras mulheres.

Paltrow afirmou ter sido chamada por Weinstein em seu quarto de hotel antes das gravações do filme "Emma", quando tinha 22 anos. Segundo ela, o produtor a tocou e sugeriu que fossem ao quarto para "fazer massagens".

"Eu era uma criança, tinha acabado de assinar o contrato e fiquei petrificada", disse Paltrow. A atriz afirmou ainda que recusou as investidas do produtor e que foi ameaçada por ele após contar o que aconteceu para o seu namorado à época, Brad Pitt.

O produtor já fechou pelo menos oito acordos com mulheres para encerrar os casos e evitar processos judiciais.

Nesta terça, a revista americana "New Yorker" publicou uma reportagem produzida ao longo de meses na qual diversas mulheres acusam publicamente Weinstein de assédio ou estupro.

O texto é assinado por Ronan Farrow, filho de Mia Farrow e Woody Allen. Em 2016, ele publicou um artigo em que relatava que sua irmã Dylan fora abusada pelo pai. Ele também criticava o silêncio de Hollywood sobre o diretor, que nega todas as acusações.

No trabalho sobre Weinstein, Farrow colheu relatos de 13 mulheres sobre casos ocorridos dos anos 1990 a 2015 –parte não quis dar o nome.

Quatro atrizes, entre elas Mira Sorvino e Rosanna Arquette, afirmaram à "New Yorker" que foram excluídas de projetos ou passaram a ser vetadas por outros produtores depois de terem rejeitado os avanços do magnata ou denunciado seus abusos.

A revista também publicou em seu site um diálogo gravado há dois anos no qual Weinstein admite à modelo Ambra Battilana Gutierrez que a tinha assediado enquanto insiste em que ela entre em seu quarto de hotel.

As acusações envolvem também a própria The Weinstein Company, criada em 2005 depois que ele e o irmão Bob saíram da Miramax –produtora com a qual ganharam Oscar por "Shakespeare Apaixonado" (1998) e fizeram longas como "Pulp Fiction" (1994).

Para evitar os avanços do chefe, funcionárias da produtora dizem ter passado a acompanhar umas às outras nas reuniões com Harvey Weinstein.

OUTRO LADO

Ao "New York Times", o produtor disse que reconhece que "a forma como me comportei com colegas no passado causou muita dor, e sinceramente peço desculpas".

Por meio de comunicado, ele negou ter cometido abusos ou estupro. "Todas as acusações de estupro foram negadas pelo sr. Weinstein, que confirmou nunca ter forçado mulheres a fazer sexo com ele", disse Sallie Hofmeister, sua porta-voz.

"Sr. Weinstein não pode falar sobre acusações anônimas, mas respeita qualquer mulher que tenha feito a denúncia contra ele. Sr. Weinstein acredita que todas as relações sexuais com estas mulheres foram consensuais."

ELAS CONTAM O QUE ELE FEZ

Gwyneth Paltrow

Paltrow, aos 22, foi contratada por Harvey Weinstein para "Emma".

Antes das filmagens, ele a convidou a sua suíte de hotel para uma reunião de trabalho, que terminou quando Weinstein a tocou na atriz e sugeriu uma massagem, contou Paltrow ao jornal "The New York Times".

"Eu era jovem, tinha assinado o contrato, fiquei petrificada", ela disse. Depois de recusar, ela contou o fato ao seu então namorado, Brad Pitt, que confrontou Weinstein. O executivo a ameaçou e disse que não falasse daquilo a mais ninguém. "Achei que ele fosse me despedir".

Angelina Jolie

A atriz disse que, no final dos anos 1990, Weinstein lhe fez propostas durante a filmagem de "Corações Apaixonados".

"Tive uma má experiência com Weinstein em minha juventude e, como resultado optei por nunca mais trabalhar com ele, e sempre alerto outras atrizes quando elas o fazem", disse Jolie em e-mail ao "New York Times".

Asia Argento

Argento, atriz e cineasta italiana, disse à revista "The New Yorker" que aos 21, em 1997, ela foi a um hotel na França, convidada para uma festa da Miramax, mas encontrou Weinstein só em seu quarto. Ela disse que ele vestiu um roupão e apareceu pedindo uma massagem.

Ela relutantemente o massageou, e depois ele fez sexo oral nela, contra sua vontade. Argento contou que ele a havia "aterrorizado". "Aquilo não terminava. Foi um pesadelo". Ao longo dos anos, Argento se submeteu aos avanços de Weinstein, sentindo-se "obrigada" a fazê-lo e teve relações consensuais com ele, dizendo saber que isso seria usado contra a credibilidade de suas afirmações.

Ashley Judd

Durante a filmagem de "Beijos que Matam", em 1997, a atriz foi a um hotel de Beverly Hills para um café da manhã com Weinstein, mas ao chegar descobriu que a reunião seria na suíte dele.

Weinstein pediu uma massagem e a convidou para vê-lo tomar banho, disse Judd ao "New York Times".

"Eu disse não, muitas vezes, mas ele continuava a insistir", disse Judd. Ela disse ter ficado "em pânico, encurralada".

Rosanna Arquette

Arquette disse à revista "The New Yorker" que, no começo dos anos 1990, ela foi ao Beverly Hills Hotel para jantar com Weinstein e buscar um roteiro. Ele abriu a porta do quarto de roupão, agarrou a mão dela e a colocou em seu pescoço.

Quando ela removeu a mão, o executivo a agarrou de novo e colocou em seu pênis exposto. "Isso nunca vai acontecer", ela recorda ter dito ao magnata do cinema, que ameaçou destruir sua carreira, contou Arquette ao "New York Times".

Ela disse à "New Yorker" que sua carreira foi de fato prejudicada. "Ele tornou as coisas muito difíceis para mim durante anos".

Mira Sorvino

Sorvino ganhou um Oscar por seu papel em "Poderosa Afrodite", distribuído pela Miramax.

Ela disse à "New Yorker" que em 1995 estava em Toronto, promovendo o filme, e terminou no quarto de Weinstein. "Ele começou a massagear meus ombros, me deixou muito desconfortável, e depois tentou algo mais, me perseguindo pelo quarto", ela disse.

Semanas mais tarde, ele ligou para Sorvino de noite, dizendo ter ideias de marketing, e foi ao apartamento dela. Com medo, ela chamou um amigo. Weinstein chegou antes, mas ela disse que seu namorado estava vindo. Desanimado, Weinstein foi embora.


Endereço da página:

Links no texto: