Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Paris confirma salto da onda 'vintage' para os anos 1990

Pode tirar do armário aquele xadrez empoeirado do início do século, o chapéu de palha e a bolsa de miçanga, a blusa florida e até o tênis surrado colorido dos anos 1990.

Paris confirmou nesta primeira metade da temporada de verão 2018 todos os códigos vistos em Nova York, Londres e Milão, e devolveu frescor ao estilo "bug do milênio".

O relógio da onda "vintage", que apontava para os anos 1970 e 1980, andou.

Os grafismos da temporada são os quadrados, em versões mínimas ou ampliadas, e losangos do padrão "argyle" inglês. O "vichy", aquele das toalhas de mesa de restaurante italiano, ainda aparece, mas só como molho da salada.

Moda agora é ser "de raiz". O desfile da Loewe, na sexta-feira (29), mostrou chapéus de palha e vestidos com a parte de baixo trabalhada em retalhos de tecidos coloridos.

Essa estética artesanal persiste com texturas tridimensionais. A melhor execução é a da grife Issey Miyake, que construiu peças em origami para depois estampá-las com paisagens bucólicas. O verde da última temporada e os tons de amarelo desta acenderam a tendência natural. Tudo que remeta a tons de madeira e à flora estarão em voga.

Daí saíram os jardins estampados das coleções. Flores, das margaridas às preferidas das grifes, as rosas, foram coladas, estampadas, ampliadas ou pinceladas. O formato da flor, fino e com topo aberto, inspirou silhuetas trapézio, com a parte das costas largas e tronco longilíneo.

Dries van Noten promoveu um contraste entre a rigidez da geometria, com padrões simétricos nas saias e calças, e a leveza das flores aplicadas em casacos e blusas. Os decotes são todos em "V", como o formato da flor.

O viés urbano e a indumentária esportiva, andou alguns degraus na escala do bom senso, para cima ou para baixo, a depender de quem observa.

Voltou um tal "sapato de pai", em resumo, o confortável tênis colorido de corrida popularizado nos 2000, só que em versão luxuosa.

A moda controversa, porém, não está mais nos pés ou na cintura –a pochete, desaparecida, está com os dias contados. O viés esportivo que martela a criação na capital da moda levará os shorts de ciclista, justos e na altura dos joelhos, para as vitrines.

Improvável, a peça compôs conjuntos Saint Laurent e Nina Ricci, duas das mais tradicionais de Paris, provando que feiura e beleza nunca estiveram tão próximos.


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