Folha de S. Paulo


Com 'mercado maduro', produtoras investem em musicais nacionais

Se há pelo menos 15 anos os musicais estilo Broadway fincaram os pés no país, as produções 100% nacionais, que exaltam o cancioneiro brasileiro, têm atraído cada vez mais grandes produtoras.

A Time for Fun, uma das pioneiras na produção de grandes musicais no país –desde 2001, traz franquias da Broadway e de Londres–, estreia no dia 5/10 seu primeiro musical brasileiro: uma adaptação do filme "2 Filhos de Francisco".

Segundo Renata Alvim, gerente-geral da divisão de teatro da T4F, a produtora vê um fortalecimento no mercado nacional e pretende seguir com peças brasileiras, "desde que haja boas histórias".

Sócia da Aventura Entretenimento, que há cinco anos produz musicais nacionais, Aniela Jordan diz que há hoje um "mercado maduro", com profissionais especializados.

Para a recém-iniciada temporada paulistana de "Garota de Ipanema", foram feitas modificações na peça da Aventura (que estreou no Rio em 2016 ), dando mais peso às músicas da bossa nova. Segundo Aniela, a produção sentiu no público uma expectativa maior por ouvir as canções.

Já faz alguns anos que a produção nacional de grande porte tem despontado. No artigo "Breve História do Teatro Musical No Brasil, e Compilação de Seus Títulos", Adriana Barea Cardoso, Angelo José Fernandes e Cassio Cardoso Filho, da Unicamp, mostram um aumento das montagens brasileiras a partir de 2011.

O crescimento é em especial entre musicais biográficos, que continuam a ser produzidos: "Zeca Pagodinho" acaba de estreia no Rio, "Hebe" chega a São Paulo em 12/10, um musical sobre Ayrton Senna deve estrear em novembro no Rio, e há previsão de outro sobre Bibi Ferreira.

As produtoras creditam o sucesso a uma identificação maior do público com histórias do país. Mas o investimento nessas peças é em parte um efeito da crise, já que as produções nacionais costumam ser mais baratas e ter custos menores de direitos autorais.

"Les Misérables", franquia de matriz britânica que a T4F estreou em março passado, lista um orçamento de R$ 31 milhões (foi autorizada a captar R$ 14,9 milhões via Lei Rouanet). Desse valor, R$ 4,8 milhões seriam apenas custos de royalties. Já "2 Filhos de Francisco", da mesma produtora, é orçado em R$ 7,5 milhões (R$ 7,1 milhões via Rouanet) e lista R$ 508 mil em direitos.

OUTRO CANTAR

Introduzir um cancioneiro nacional também significa cantar de um jeito distinto. As atrizes Myra Ruiz, 24, e Fabi Bang, 32, que se formaram no teatro musical e atuaram em em "Wicked", dizem que se reinventaram para interpretar as canções da bossa nova em "Garota de Ipanema".

Elas integram o novo elenco do espetáculo, que teve ainda texto, direção e concepção alterados. Até o subtítulo passou de "O Amor É Bossa" para "O Musical da Bossa Nova".

Lenise Pinheiro/Folhapress
RIO DE JANEIRO/RJ BRASIL. 22/09/2017 - Show da banda baiana system durante o Rock in Rio, realizado no Parque Olimpico na Barra da Tijuca.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, ILUSTRADA)***EXCLUSIVO***
Cena do espetáculo "Garota de Ipanema, o Musical da Bossa Nova"

Se antes a história de um casal no Rio dos anos 1960 e 70 era mote para falar do nascimento da bossa nova, agora a montagem se concentra apenas na história do gênero musical. Tirou-se a ficção e voltou-se para o cancioneiro, que abrange cerca de 90% da apresentação, numa mescla de show e espetáculo teatral.

A trama foi dividida em quatro blocos, que repassam as origens e o legado da bossa. Entre os 54 números, com canções como "Chega de Saudade", os dez atores-cantores narram a história do gênero e, vez ou outra, mimetizam uma personalidade, caso de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

"Eu definiria a peça como um grande bate-papo sobre a bossa nova", diz Sergio Módena, que assina a direção e divide a dramaturgia com o pesquisador Rodrigo Faour.

Já "2 Filhos" leva um repertório sertanejo ao palco –algo já visto em "Nuvem de Lágrimas" (2015), versão de "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen, com músicas de Chitãozinho e Xororó.

A história é a mesma do filme de 2005: a obstinação de um pai (papel de Rodrigo Fregnan) em alçar ao sucesso os filhos, que se tornariam a dupla Zezé Di Camargo e Luciano (interpretados por Beto Sargentelli e Bruno Fraga).

Até o diretor do longa, Breno Silveira, novato em musicais, assina a direção-geral da peça, que ainda conta com Carolina Kotscho, correteirista do filme. Mas eles têm a colaboração de nomes do teatro musical: Rachel Ripani como diretora-associada e Mariana Elisabetsky no texto.

A peça dá mais destaque à mãe da dupla, Helena, a pessoa que "cantava em casa", segundo Breno. Laila Garin (intérprete de Elis Regina no teatro) dá voz à personagem, ganhando alguns solos.

As músicas resgatam o cancioneiro sertanejo, não se restringindo ao repertório da dupla. Para auxiliar a narrativa, há ainda originais do diretor musical Miguel Briamonte.

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2 FILHOS DE FRANCISCO
QUANDO qui. e sex., às 21h; sáb., às 17h e 21h; dom., às 16h e 20h; de 5/10 a 17/12
ONDE Teatro Cetip, r. dos Coropés, 88, tel. (11) 4003-5588
QUANTO R$ 50 a R$ 200
CLASSIFICAÇÃO livre

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GAROTA DE IPANEMA
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 20h30; até 1º/10
ONDE Teatro Opus - shopping Villa-Lobos, av. das Nações Unidas, 4.777, tel. (11) 4003-1212
QUANTO R$ 50 a R$ 160
CLASSIFICAÇÃO livre


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