Folha de S. Paulo


Sem novidades, temporada de desfiles em Milão vira festa autorreferente

Alessandro Garofalo/Reuters
Modelo durante desfile do Dolce & Gabbana que explorou temas como flores e hortaliças
Modelo durante desfile do Dolce & Gabbana que explorou temas como flores e hortaliças

Não seria correto dizer que esta temporada de desfiles em Milão foi fraca em boas imagens, mas também seria incorreto afirmar que as apresentações agregaram novidade à moda.

Salvo exceções como a marcha feminista da Prada, a temporada milanesa foi uma grande festa autorreferente do estilo italiano.

O ego da indústria local foi massageado por diversas vezes, como na exuberância do desfile retrospectiva da Versace, no primor técnico da Giorgio Armani e na artesania da Bottega Veneta.

Mas foi no domingo (24), nas últimas horas de uma temporada repentinamente encurtada em um dia (a sombra da crise no luxo parece não ter hora para acabar), que a grife Dolce & Gabbana revelou o "modus operandi" da Itália no castelo de cartas da moda.

Portofino e Capri, balneários que são patrimônios do sul italiano, há várias temporadas conduzem a criação da grife e voltaram a inspirar seus estilistas.

Eles colaram nas roupas elementos da cultura local -teve hortaliça, bule de café, rosas-, abriram fendas, nublaram o corpo com transparências e embalaram a imagem em um cenário móvel feito de baralho gigante.
Tudo para angariar seguidores -no caso, os dos "millennials" convidados.

No dia anterior ao desfile, jovens reconhecidos em seus países de origem fizeram uma apresentação "secreta", para amigos e amigos de amigos da marca. Tudo em família, como prega a dupla Domenico Dolce e Stefano Gabbana em suas campanhas.

Representante brasileira dessas celebridades do Instagram, a atriz Marina Ruy Barbosa desfilou e também deu as caras na festa.

Como que planejado, dias antes a atriz confirmara à imprensa de celebridades que a grife desenharia seu vestido de casamento.

SONHO ITALIANO

A Itália se vale de um sonho idealizado e construído pela moda, entre os anos 1980 e 1990, como alternativa ao sisudo prêt-à-porter francês.

Os países com origens ou presença latina abraçaram a causa, como Estados Unidos e Brasil, país onde a Dolce & Gabbana é uma das etiquetas que mais vendem roupas entre as grifes internacionais.

Esse olhar mais atento para o próprio umbigo não é fórmula exclusivamente italiana. O Brasil, também mergulhado em incertezas quanto à sua posição no mercado internacional, vem mimetizando nas roupas a cultura do feito à mão e a paisagem tropical.

Foi o que fez a Tod's, um dos maiores emblemas do luxo italiano comportado.

Menos minimalista que em temporadas passadas, a grife imprimiu as paisagens do sul do país na coleção, intitulada sonho italiano, cuja cartela de cores remetia à mistura de praia azul, areia fina, pôr-do-sol alaranjado e brancura reluzente dos iates "al mare".

Em competição acirrada com os vizinhos franceses, parte da moda italiana assumiu de vez em sua moda o "dolce far niente", expressão usada para identificar o ócio, as delícias de ficar à toa.

AVALIAÇÃO DOS DESFILES

DOLCE & GABBANA (bom)
TOD'S (muito bom)


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