Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Em livro, gato safado conduz releitura da indústria da animação

Divulgação
Imagem da HQ 'O Bulevar dos Sonhos Partidos
Imagem da HQ 'O Bulevar dos Sonhos Partidos'

O BULEVAR DOS SONHOS PARTIDOS (muito bom)
AUTOR Kim Deitch, com Simon Deitch
EDITORA Todavia
QUANTO R$ 54,90 (160 págs.)

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Kim Deitch, 73, começou a atuar na década de 1960 em publicações alternativas de HQ. Anos depois, figurou entre os colaboradores da revista "Raw", de Art Spiegelman, criador da série em quadrinhos "Maus". É nessa época que surge "O Bulevar dos Sonhos Partidos", feito com seu irmão Simon.

O livro reconstrói, a seu modo, a trajetória da indústria de animação nos EUA no século 20. O foco está na ficcional Fábulas Animadas Fontaine, empresa cujo principal sucesso é o gato Waldo. Mas os bastidores da produção escondem podres.

Fruto da imaginação do desenhista Ted Mishkin, o gato sacana é um delírio do artista, alucinação que o acompanha desde a infância. Por intermédio do irmão, Al, gerente de produção do estúdio, o ser ganha animação própria –uma delas ambientada na tal rua dos sonhos partidos do título.

O que significa renda para a empresa de animação se torna martírio à saúde mental de Ted. Seu drama pessoal o leva a sucessivos afastamentos e retornos a ela –num deles, passa a criar histórias em quadrinhos. De uma forma ou de outra, Waldo se fazia presente.

Há muitas referências a figuras reais ao longo da história. Walt Disney (1901-1966) é citado explicitamente. Outros são mencionados de forma mais acobertada, como Winsor McCay (1869-1934), quadrinista e um dos primeiros a criar animações ""ele empresta o primeiro nome a um dos personagens, também pioneiro no ramo.

O Bulevar dos Sonhos Partidos
Kim Deitch
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O trabalho dos irmãos Deitch detalha como seriam os bastidores da criação dos primeiros desenhos animados, de quando ainda eram feitos em preto e branco até o processo industrial que impôs a cor. Faz isso com uma narrativa que entrega aos poucos as informações.

Detalhes apenas citados são, depois, aprofundados e esclarecidos –o esquema narrativo funciona mais ou menos como o feito por Quentin Tarantino no filme "Pulp Fiction", de 1994, mas tendo a indústria da animação e os meandros de seus profissionais como protagonistas.


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