Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Adaptação não tem nenhum elemento do bom longa de terror

Um bom filme de terror deve ter um mistério a ser desvendado, cenas que provoquem sustos na plateia, uma trama que envolva o espectador em suspense crescente e, o mais importante, um final surpreendente, que pode ser amargo ou redentor.

"It - A Coisa" não tem nada disso. Falta inteligência, falta brilho. Para quem conhece as referências, pode ser definido como a turma de "Goonies" enfrentando o Fred Krueger de "A Hora do Pesadelo".

Lançado em 1986, o romance de Stephen King que dá origem ao filme é um de seus livros mais bem-sucedidos. Longo, tem a ação passada em dois períodos. A primeira parte, na década de 1950. A segunda, com os mesmos personagens, trinta anos depois. É uma fábula de terror ambiciosa, sobre traumas de infância que afetam a vida adulta.

Numa cidadezinha, sete garotos enfrentam uma criatura que explora os medos mais profundos das crianças para cometer assassinatos. Três décadas depois, retornam à cidade porque os desaparecimentos e mortes voltam a ocorrer.

O filme dirigido por Andy Muschietti, do sofrível terror "Mama" (2013), usa só a parte do romance com os personagens principais ainda crianças, transportando a ação para os anos 1980. Assim, abrange apenas o primeiro embate dos meninos com a "Coisa".

Cortar a segunda parte da trama original destrói completamente as intenções de King. Transforma tudo em um enredo episódico, no qual são mostrados os encontros de cada garoto com o palhaço até a óbvia união contra a entidade.

Em 1990, uma péssima adaptação para a TV pelo menos respeitou a integridade da história e fez sucesso nas locadoras brasileiras.

De bom, o roteiro preserva os heróis como alunos que sofrem bullying na escola, com requintes de violência. Essa opressão une os garotos.

De ruim, há a evidente intenção de usar um pouco da fórmula charmosa que fez o sucesso da série "Stranger Things".

It - A Coisa
Stephen King
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Algumas sequências são encenadas com fidelidade ao romance de King, como a cena inicial em que o garoto Georgie é puxado para dentro de um bueiro pelo palhaço.

Embora seja engenhosa no livro, no filme é contraproducente. Com apenas quatro minutos de sessão, o espectador já sabe a cara do "monstro" e seu modo de atrair as vítimas.

Sem sustos, sem mistério, sem violência gráfica, sobra ao espectador torcer pelos garotos. Melhor esperar o segundo ano de "Stranger Things".

IT - a coisa

DIREÇÃO Andy Muschietti

ELENCO Jaeden Lieberher, Jeremy Ray Taylor, Sophia Lillis

PRODUÇÃO EUA, 2017; 16 anos

QUANDO em cartaz

AVALIAÇÃO ruim


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