Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'It - A Coisa' não tem nenhum elemento de bom filme de terror

Divulgação
Ator Bill Skarsgård é o palhaço Pennywise em 'It - A Coisa
Ator Bill Skarsgård é o palhaço Pennywise em 'It - A Coisa'

IT - A COISA (ruim)
(It)
DIREÇÃO Andy Muschietti
PRODUÇÃO EUA, 2017, 16 anos
ELENCO Jaeden Lieberher, Jeremy Ray Taylor, Sophia Lillis
Veja salas e horários de exibição

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Um bom filme de terror deve ter um mistério a ser desvendado, cenas que provoquem sustos na plateia, uma trama que envolva o espectador em suspense crescente e, o mais importante, um final surpreendente, que pode ser amargo ou redentor.

"It - A Coisa" não tem nada disso. Falta inteligência, falta brilho. Para quem conhece as referências, pode ser definido como a turma de "Goonies" enfrentando o Fred Krueger de "A Hora do Pesadelo".

Lançado em 1986, o romance de Stephen King que dá origem ao filme é um de seus livros mais bem-sucedidos. Longo, tem a ação passada em dois períodos. A primeira parte, na década de 1950. A segunda, com os
mesmos personagens, trinta anos depois. É uma fábula de terror ambiciosa, sobre traumas de infância que afetam a vida adulta.

Numa cidadezinha, sete garotos enfrentam uma criatura que explora os medos mais profundos das crianças para cometer uma série de assassinatos. Três décadas depois, eles retornam à cidade porque os desaparecimentos e mortes de crianças voltam a acontecer.

O filme dirigido por Andy Muschietti, do sofrível terror "Mama" (2013), usa apenas a parte do romance com os personagens principais ainda crianças, transportando a ação para os anos 1980. Assim, abrange apenas o primeiro embate dos meninos com a "Coisa", o nome que eles dão ao ser que aparece para eles na forma de um palhaço macabro.

Cortar a segunda parte da trama original destrói completamente as intenções de Stephen King. Transforma tudo em um enredo episódico, no qual são mostrados os encontros de cada garoto com o palhaço, um a um, até a óbvia união do grupo contra a entidade.

Em 1990, uma péssima adaptação para a TV pelo menos respeitou a integridade da história, com os dois períodos de tempo na narrativa. O telefilme foi lançado com sucesso nas locadoras brasileiras. Talvez o público também abrace essa nova versão reduzida no cinema.

De bom, o roteiro preserva os heróis como alunos que sofrem bullying pesado na escola, com requintes de violência, algo que no livro é ainda mais intenso. Essa opressão ajuda a unir mais os garotos.

De ruim, há a evidente intenção de usar um pouco da fórmula charmosa que fez o sucesso da série "Stranger Things".

A imagem dos meninos percorrendo a cidade e seus arredores com as bicicletas na década de 1980 é uma cópia descarada, impressão reforçada pela presença do ator Finn Wolfhard, que é o Richie em "A Coisa" e também intérprete de Mike Wheeler no seriado da Netflix.

Algumas sequências são encenadas com fidelidade ao romance de King, como a cena inicial em que o garoto Georgie é puxado para dentro de um bueiro pelo palhaço.

It - A Coisa
Stephen King
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Embora seja engenhosa no livro, no filme é contraproducente. Com apenas quatro minutos de sessão, o espectador já sabe a cara do "monstro" e seu modo de atrair as vítimas. Isso vai se repetir pelo filme inteiro, e mesmo a variação de cada armadilha não redime a trama de ser enfadonha. Será que os personagens adultos vão voltar num segundo filme?

Sem sustos, sem mistério, sem violência gráfica, sobra ao espectador torcer pelos garotos. Sendo assim, melhor esperar a segunda temporada de "Stranger Things".

Assista ao trailer de 'It - A Coisa'

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