Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'O Acampamento' tem narrativa envolvente apesar de trama banal

Divulgação
Ian Meadow em cena do filme 'O Acampamento
Ian Meadow em cena do filme 'O Acampamento'

O ACAMPAMENTO (bom)
(Killing Ground)
DIREÇÃO Damien Power
PRODUÇÃO Austrália, 2016, 14 anos
ELENCO Harriet Dyer, Ian Meadow, Aaron Glenane e Aaron Pedersen
QUANDO estreia em 31/8
Veja salas e horários de exibição

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Em seu primeiro longa-metragem, o roteirista e diretor Damien Power leva adiante a tradição do cinema de terror australiano de ambientar histórias em remotas paragens naturais, em que os protagonistas passam maus bocados nas mãos de tipos sinistros.

Power compensa a falta de originalidade da história com uma maneira de contá-la bastante inventiva. Bem elaborado, o roteiro embaralha temporalidades diferentes para aprofundar o suspense.

Dias antes do Ano Novo, Samantha (Harriet Dyer) e Ian (Ian Meadow) decidem acampar perto de uma cachoeira selvagem, dentro de um parque nacional. Quando o casal chega ao idílico lugar, encontra uma barraca montada e surpreendentemente vazia. A situação se complica com a irrupção de Chook (Aaron Glenane) e German (Aaron Pedersen), uma dupla de caçadores.

A história do casal e o enigma que envolve os ocupantes da outra barraca são apresentados em paralelo e, no começo, de forma ligeira e propositalmente desorganizada. O salto de uma temporalidade a outra muitas vezes não é imediatamente perceptível, desorientando o espectador.

Apesar da previsibilidade da situação, essa alternância entre as histórias amplia a sensação constante de ameaça que paira sobre Samantha e Ian e imprime um ritmo febril ao filme, cuja crescente intensidade captura a atenção do espectador quase até o fim, quando o quebra-cabeça se encaixa.

A tensão também é trabalhada com eficácia pelo uso narrativo de objetos aparentemente anódinos, como o chapéu do bebê ou uma lata de cerveja. Quando a selvageria explode, em meio a essa atmosfera meticulosamente construída, ela é ainda mais perturbadora: a atrocidade pode ser gratuita, sem motivos.

Depois de conduzir com competência o essencial da história, manipulando as emoções do espectador e apresentando cenas fortes, Power decepciona com um desenlace desprovido do mesmo vigor e que parece durar mais do que o necessário. A última cena, melodramática, nada acrescenta. Mas isso não tira os méritos do diretor estreante.

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