Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Regular, thriller '150 Miligramas' retrata escândalo farmacêutico

Divulgação
Benoît Magimel (esq.) e Sidse Babett Knudsen (dir.) em cena do filme '150 Miligramas
Benoît Magimel (esq.) e Sidse Babett Knudsen (dir.) em cena do filme '150 Miligramas'

150 MILIGRAMAS (regular)
(La Fille de Brest)
DIREÇÃO Emmanuelle Bercot
PRODUÇÃO França, 2016
ELENCO Sidse Babett Knudsen, Benoît Magimel, Charlotte Laemmel e Isabelle De Hertogh
QUANDO estreia em 31/8
Veja salas e horários de exibição

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O título do filme no Brasil se refere à dosagem de benfluorex, o princípio ativo do medicamento Mediator, epicentro de um dos maiores escândalos sanitários da história recente da França, droga usada por diabéticos que provocou centenas de mortes naquele país.

O caso veio à tona em 2009, por iniciativa de Irène Frachon, pneumologista do Hospital Universitário de Brest, que se se insurgiu contra o lobby da indústria farmacêutica e as autoridades sanitárias.

Sua luta, cheia de altruísmo e determinação -que resultou na retirada do medicamento das farmácias francesas- é contada a partir dos códigos do thriller, numa narrativa cheia de reviravoltas e suspense.

Uma história que envolve grupos de interesse sem escrúpulos, enquanto os poderes públicos tergiversam, merece ser levada às telas. Mas o roteiro, baseado no livro-denúncia publicado por Frachon em 2010, não está à altura do tema.

O filme lança mão uma série de elementos para tentar dar mais densidade dramática à personagem da pneumologista, como momentos de sua vida familiar, que não surtem o efeito desejado. O mesmo acontece nas cenas em que ela aparece sozinha no mar agitado, alusão óbvia ao combate solitário e corajoso que trava contra os poderosos.

Outra inconveniência é ter feito de Frachon uma dinamarquesa, nacionalidade de Sidse Babett Knudsen, a atriz que encarna a personagem, para poder justificar seu sotaque.

Nos momentos de tensão extrema ela solta imprecações em dinamarquês, para a estupefação geral. No meio de tanto artificialismo, Knudesen -que é uma atriz com recursos- acaba se perdendo e muitas vezes carrega nas tintas.

A mesma falta de matizes aparece na estrutura do drama, organizado a partir da oposição esquemática entre a médica e seus aliados -os bons, ponderados e justos- e os representantes do laboratório e das autoridades de saúde - os maus, presunçosos e mentirosos.

Finalmente, os doentes, aqueles pelos quais a heroína se joga de cabeça nessa guerra, e seus dramas pessoais, aparecem muito pouco, quase não têm voz.

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