Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Diretor islandês faz estreia sensível e hábil com 'Heartstone'

HEARTSTONE (bom)
(Hjartasteinn)
DIREÇÃO Guomundur Arnar Guomundsson
PRODUÇÃO Islândia/Dinamarca, 2017, 14 anos
ELENCO Baldur Einarsson, Blaer Hinriksson, Diljá Valsdóttir
Veja salas e horários de exibição

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O cinema nórdico nos ensina que os adultos não prestam. O campeão dessa tese, muito difundida desde os primeiros filmes de Ingmar Bergman, é o diretor sueco Roy Andersson, que desde o início de sua carreira tem feito uma crítica feroz à sociedade competitiva e hipócrita que transforma indivíduos em zumbis.

Não é difícil lembrar do primeiro filme de Andersson, o sublime "Uma História de Amor Sueca", enquanto vemos este "Heartstone", longa de estreia do diretor islandês de nome desafiador: Guomundur Arnar Guomundsson.

Num e noutro filme temos adolescentes descobrindo o amor e o sexo em meio a uma sociedade relativamente liberal, mas totalmente problemática.

Guodmundsson escolheu sair de sua cidade natal, a capital Reykjavik, para ambientar sua história numa vila de pescadores, um espaço paradisíaco e aparentemente calmo.

Ali vivem dois amigos inseparáveis, Thor (Baldur Einarsson) e Christian (Blaer Hinriksson). Eles se divertem com pequenas travessuras da adolescência, e estão interessados em duas amigas, Beta (Diljá Valsdóttir) e Hanna (Katla Njalsdóttir).

Na maior parte do filme, é verão. O que implica em banhos no lago, caminhadas pelas planícies, entre outras maneiras de aproveitar a generosa natureza do lugar. Mas o que eles mais fazem é flertar e brincar no quarto de algum deles. Brincam de jogo da verdade e outras coisas de adolescentes.

Christian, mais alto e aparentemente mais velho que Thor, descobre que sente pelo melhor amigo algo maior que a amizade. Numa sociedade machista e homofóbica, em que meninos são treinados para ferir e dominar desde cedo, essa descoberta trará alguns sofrimentos para Christian (e para Thor também).

Guodmunsson mantém a câmera quase sempre bem posicionada, alternando distâncias conforme a relação entre os personagens progride. Vez ou outra, mergulha corajosamente os personagens no escuro, como numa analogia com esse rito de passagem complicado da adolescência.

Se falta brilho à narrativa, e se não temos cenas memoráveis a destacar, ao menos é uma estreia sensível e levada com certa habilidade, que nos convida a acompanhar o trabalho desse diretor.

Assista ao trailer com legendas em inglês

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