Folha de S. Paulo


'GoT' retoma história da Guerra das Rosas e personagens de Shakespeare

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Cersei Lannister - Além da rainha de 'GoT', Sandra Mara Azevedo faz a Chiquinha do 'Chaves
Lena Headey interpreta a matriarca dos Lannister, Cersei Lannister

Está no mapa. Westeros é uma composição das ilhas britânicas –com a Irlanda embaixo e de ponta-cabeça, segundo o próprio George R.R. Martin. Suas referências vêm da sangrenta história da região, desde as invasões de celtas e romanos, passando pelos normandos e culminando na Guerra das Rosas.

A sétima temporada, com muito dinheiro e sem a referência dos livros, tornou-se mais espetacular e novelesca. Ganhou ação e perdeu tragédia. Mas ainda foi possível assistir à última cena perturbadora de dame Diana Rigg, veterana da Royal Shakespeare Company e do National Theatre, como Lady Olenna Tyrell.

Derrotada, sua família devastada, ela bebe o veneno, mas antes de morrer relata, imperturbável, com o olhar rasgando seu carrasco, Jamie, como matou barbaramente o filho que ele teve com Cersei, o monstruoso Joffrey. Aquele foi talvez o homicídio mais significativo na extensa mortandade de "Game of Thrones".

Começou ali a derrocada, ao que parece irreversível, dos Lannister. Resumindo muito, a série ecoa até nos nomes das famílias centrais, Lannister e Stark, a guerra civil inglesa no século 15, que opôs os Lancaster, cujo brasão era uma rosa vermelha, e os York, rosa branca, na luta pelo trono.

A Guerra das Rosas é um evento histórico importante para a Inglaterra, mas ressoa até hoje, na cultura popular global, porque foi tema de duas tetralogias de Shakespeare e de outras peças esparsas que ele deixou. São títulos e protagonistas como "Henrique 5º" (Lancaster) e "Ricardo 3º" (York), entre vários outros.

Shakespeare, nessas e noutras obras, monta personagens intrincados –e não só os principais. O espectador não consegue reduzi-los a bem e mal, o que alimenta também os melhores momentos da série, desde o princípio, com figuras como Olenna, que fazem a festa dos grandes atores que a HBO foi buscar nos palcos londrinos.

São alguns dos melhores intérpretes de suas gerações, como Stephen Dillane, que foi Stannis Baratheon, ou Jonathan Pryce, o Alto Pardal.

Os paralelos com personagens shakespearianos são quase infindáveis e não se restringem às peças históricas.

O Tyrion Lannister das primeiras temporadas lembra o dissoluto príncipe Hal de "Henrique 4º", que depois, como o Tyrion das últimas, se torna o valoroso Henrique 5º.

Anão e quase pária, ele remete ainda a Ricardo 3º. Cersei, a Lady Macbeth. O assassinato de Jon Snow repete, perto da paródia, o de Júlio César. O Pardal tinha traços do líder popular Jack Cade, da segunda parte de "Henrique 6º". E a carnificina de "Tito Andrônico" parece ressurgir aos soluços, desde sempre.

Mas é evidente que as inspirações de Martin, americano de Nova Jersey, e dos "showrunners" da série, ambos também americanos, vêm antes do imaginário pop, Shakespeare inclusive. Martin gosta de citar "Planeta Proibido", baseado em "A Tempestade", como o melhor filme de ficção científica já feito.

Uma das caracterizações irônicas –e adequadas– de "Game of Thrones" que se repetem, há tempos, é que se trata de "Shakespeare com dragões".

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O QUE APRENDEMOS NA SÉTIMA TEMPORADA

1. O bastardo, quem diria, pode herdar o trono
Uma passagem bem discreta, no quinto episódio da temporada, deixou claro que Jon Snow é filho legítimo de Lyanna Stark e Rhaegar Targaryen —o que faz dele o herdeiro legítimo dos Targaryen.

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Ilustração Game of ThronesPersonagens

2. Todo mundo tem boletos
O Banco de Braavos apareceu como um agente importante na disputa: conhecida por tomar partido de quem está vencendo batalhas, a instituição emparedou Cersei Lannister, mas ela teve suas dívidas saldadas após o saque da casa Tyrell.

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3. O amor entre irmãos não é inabalável
Parece que o amor de Jaime Lannister pela irmã, Cersei, não sobrevive a tudo. O personagem parece assustado com a impetuosidade dela, com medo que sua sede por poder leve todos para a guilhotina.

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4. Ter dragões não garante a segurança de ninguém
Daenerys parecia invencível montada em sua besta-fera cuspidora de fogo, mas os dragões não são imortais. Não só os Lannisters têm uma arma capaz de destruí-los mas também o Rei da Noite, que tem melhor pontaria.

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5. Acabou o amor na casa Stark
Nem tudo é lindo na família dos personagens nobres e injustiçados. Sansa Stark dá sinais de que pode ser corrompida ao provar um gostinho de poder, depois de ficar responsável por Winterfell na ausência de Jon Snow.

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6. Quando querem, os personagens correm maratonas
Se em outras temporadas, os personagens demoravam vários episódios para cruzar o continente de Westeros, na atual, as distâncias parecem ter sumido. De uma cena para a outra, Jon Snow chegou à Ilha do Dragão, e Daenerys foi ao Norte.

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7. É hora de gastança...
Ao que parece, a produção guardou todas as economias (em Braavos?) para agora gastar com muitas e muitas cenas de explosão e combates grandiosos.

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8...e de passos lentos
'Game of Thrones' está soltando pequenas pistas sobre o futuro, mas está se arrastando enormemente nesses últimos capítulos. E com muitos tropeços.

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QUEM MELHOROU E QUEM PIOROU NESTA TEMPORADA

SOBE

Sansa Stark
De eterna vítima, ela começou a mudar na temporada anterior e nessa finalmente assumiu as rédeas; melhor ainda, seu embate com a irmã Arya trouxe densidade.

Cão
O personagem mais niilista da série voltou, e com ele o que "Game of Thrones" trazia de melhor, ou seja, a ideia de que ninguém é inocente naquele universo.

Daenerys Targaryen
A herdeira ao Trono de Ferro deu mostras de alguma nuance ao se portar como uma comandante autoritária, e não mais como uma salvadora incorruptível.

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DESCE

Tyrion Lannister
Dono das melhores tiradas da série, o anão fanfarrão teve toda a sua participação resumida à de reles conselheiro, nem sempre eficaz, de Daenerys Targaryen.

Jon Snow
O guerreiro bastardo já não era dos personagens mais complexos da trama, mas agora que parece ter se apaixonado por Daenerys ficou ainda mais raso e sem graça.

Bran Stark
O caçula Stark mal teve função; ciente de segredos que podem alterar os rumos de Westeros, ele praticamente entrou mudo e saiu calado dessa temporada.

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Fernando Mola/Folhapress
Game of thrones - mapa - ilustração

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