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Coleção Folha revê trama de tinta autobiográfica de Simone de Beauvoir

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A escritora francesa Simone de Beauvoir em foto para a revista
A escritora francesa Simone de Beauvoir em foto para a revista "Time", em 1956

Dona da célebre frase "não se nasce mulher, torna-se mulher", a filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) integra a Coleção Folha Mulheres na Literatura com a obra "Mal-Entendido em Moscou", que chega às bancas no próximo domingo (03).

O quarto volume da seleção conta a história de André e Nicole, professores sexagenários aposentados que sentem o peso da idade durante visita à União Soviética nos anos 1960. O motivo da viagem é encontrar Macha, filha do primeiro casamento de André, mas acaba por desencadear uma crise conjugal e identitária no casal.

Assim como em "Os Mandarins", livro ganhador do Prêmio Goncourt na França em 1954, o enredo de "Mal-Entendido em Moscou" apresenta forte caráter autobiográfico de Beauvoir, nascido a partir das experiências da própria autora e de seu casamento com o também filósofo Jean-Paul Sartre, com quem viajou pelo território soviético na mesma época.

No livro, o desapontamento de Nicole e André perante os fatos da vida não surge apenas como decorrência do envelhecimento do indivíduo e sua conotação negativa na sociedade contemporânea.

A narrativa também reflete as frustrações políticas de ambos diante dos ideais socialistas, nos quais acreditavam e depositavam expectativas desde jovens. Mas viram pessoalmente que as expectativas não se cumpriram ao longo do tempo e ainda estavam longe de acontecer.

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Apesar de refletir sobre a condição de ser mulher no mundo, o romance não se limita apenas às leitoras. "As obras de valor literário partem da condição individual e refletem todo o conjunto da experiência humana", afirma o crítico literário Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha e curador da coleção.

Escrito entre 1966 e 1967, "Mal-Entendido em Moscou" deveria ter integrado uma coletânea intitulada "A Mulher Destruída", de 1968, mas Simone de Beauvoir optou no fim por não publicá-lo.

Atribui-se a desistência justamente à conotação extremamente pessoal da narrativa, tanto no que concerne o relacionamento entre Beauvoir e Sartre quanto na visão dos dois sobre o socialismo. O lançamento aconteceu somente seis anos depois da morte da filósofa e ícone feminista, em 1992, na revista francesa "Roman 20-50".


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