Folha de S. Paulo


'Tribalistas é férias, não pode se tornar mais um trabalho', diz Marisa Monte

Zo Guimarães/Folhapress
O grupo Tribalistas, que acaba de lançar um novo álbum após um hiato de 15 anos
Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes posam no hotel Copacabana Palace, no Rio

"Tribalistas" está nas lojas e nas plataformas digitais a partir desta sexta (25). Leva o mesmo título do disco de estreia do projeto conjunto de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, que foi o grande sucesso da música brasileira em 2002.

O segundo trabalho vem num pacote farto. O CD com dez faixas inéditas terá nas lojas a companhia de um DVD que mostra os músicos tocando todas as músicas no estúdio e no mundo digital o formato "hand album", que traz além do áudio encarte com letras, ficha técnica e fotos.

Quem esperar ruptura musical vai encontrar na verdade as certeiras harmonizações vocais e o instrumental rico do primeiro disco, em versão mais depurada.

"A gente não foi atrás de um conceito musical novo, não é uma banda fazendo carreira e querendo se renovar a cada disco. É só vontade de mostrar essas músicas", diz Arnaldo à Folha, dando entrevista em Copacabana.

"Do jeito que a gente toca na varanda", acrescenta Marisa. Brown entra na conversa, como se fizesse uma solene declaração de intenções dos Tribalistas, arrancando risos: "Não transgredir nem agredir nem agradar!".

Na verdade, o trio nunca parou de trabalhar junto. Nos discos individuais que lançaram entre os dois álbuns dos Tribalistas estão 23 canções escritas pelo trio. Se foram contadas também parcerias de apenas dois deles, o número sobe para 57 músicas.

O álbum surge como lugar para reunir novas canções, que poderiam seguir espalhadas nos discos de cada um.

"A gente achou que essas músicas ganhariam potência gravadas pelos três. Se um de nós gravasse 'Diáspora' ia ser lindo, mas com os três é mais forte", diz Marisa.

Zo Guimarães/Folhapress
O grupo Tribalistas, que acaba de lançar um novo álbum após um hiato de 15 anos
O grupo Tribalistas, que acaba de lançar um novo álbum após um hiato de 15 anos

As quatro músicas liberadas na internet antes do lançamento apontavam uma sonoridade semelhante ao primeiro disco, mas se "Aliança" e "Fora da Memória" retinham uma leveza que marcou a estreia, "Diáspora", sobre refugiados, e "Um Só", sobre a política, mostraram o trio mais contundente.

Para Marisa, há uma mudança importante entre 2002 e 2017 que se reflete nas canções, mais do que mudar timbres ou textura do som. "A mudança é do mundo. O trabalho reflete o que vivemos."

"Tem músicas, como 'Fora da Memória' e 'Ânima', que são mais reflexivas", continua. "Já 'Feliz e Saudável' e 'Aliança' falam com está do seu lado, 'Diáspora' e 'Lutar e Vencer' falam do mundo."

Esta última poderia ser trilha da ocupação das escolas pelos estudantes em protestos. Marisa visitou as ocupações no Rio, e Arnaldo fez o mesmo em São Paulo.
Se o disco passa uma sensação de alegria na música do trio, o DVD deixa isso escancarado. "É muito prazeroso", diz Arnaldo sobre o trabalho. Eles gravaram uma música por dia, "das três da tarde até a hora que terminasse a faixa", lembra Marisa.

"A gente quis preservar isso", explica a cantora. "Essa intimidade, esse conforto. A gente não precisa de muito. Com nosso material e poucos amigos em volta, a gente tem tudo o que deseja."

Brown diz que o importante é a diversão, e deixa a frase de impacto para a parceira: "A gente não quer transformar isso em trabalho. Queremos que continue sendo férias para a gente!".

Tribalistas
Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte
l
Comprar

Quando fizeram o primeiro álbum, não tinham expectativas. Sabiam que não eram uma banda, mas ganharam até prêmio de grupo revelação. "E aceitamos!", riem.

Arnaldo define o trabalho como algo próximo de discos de colaboração, de muita tradição na música brasileira, "como Elis e Tom, Bethânia e Chico, Doces Bárbaros".

Turnê? Este ano não vai acontecer. Brown está na TV, no "The Voice", Marisa viaja para shows com Paulinho da Viola, e Arnaldo acaba de lançar DVD gravado em Lisboa.

Em 2018, quem sabe?

O jornalista THALES DE MENEZES viajou a convite da gravadora Universal Music

TRIBALISTAS
ARTISTAS Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte
LANÇAMENTO Phonomotor/Universal Music
QUANTO R$ 30 (CD), R$ 40 (DVD)

*

FAIXA A FAIXA
As dez canções do novo álbum

'DIÁSPORA'
A canção sobre os refugiados é forte, deve ser a primeira a emplacar nas paradas. Tem duas citações: trecho do Canto 11 de "O Guesa", de Joaquim de Sousândrade, e um trecho de "Vozes d'África", de Castro Alves

'UM SÓ'
Claramente voltada aos políticos ("somos a justiça/ somos o ladrão/ somos da quadrilha/ viva São João"), tem como coautor, junto do trio, o filho de Arnaldo, Brás Antunes

'FORA DA MEMÓRIA'
Letra "filosófica" numa faixa escrita pelo trio e os músicos Pedro Baby e Pretinho da Serrinha

'ALIANÇA'
Uma das românticas do disco, fala sobre casamento. Coautoria de Pedro Baby e Pretinho

'TRABALIVRE'
Parceria do trio com a cantora portuguesa de fado e pop Carminho. Uma canção de trabalho, irônica ("domingo boto meu pijama/ deito lá na cama para não cansar/ segunda-feira eu já tô de novo/ atolado de trabalho para entregar")

'BAIÃO DO MUNDO'
Mais uma canção que fala de questões sociais. O tema aqui é a escassez de água

'ÂNIMA'
Reflexiva, da gestação ("da onde eu vim/ eu não trouxe mala/ não trouxe nada") à morte ("pra onde eu vou/ eu não levo casa/ não levo nada")

'FELIZ E SAUDÁVEL'
Tem cara de hit. Mais uma de amor, com letra de versos "pra cima", na linha de "Já Sei Namorar"

'LUTAR E VENCER'
Praticamente um hino para os estudantes em protesto contra o governo

'OS PEIXINHOS'
Quase infantil, encerra o disco com um momento fofo. Carminho é de novo coautora, mas agora aparece cantando na faixa, com um vocal arrebatador

Ouça no deezer


Endereço da página:

Links no texto: