Folha de S. Paulo


Crítica

Filme angustiante, 'Na Mira do Atirador' retrata absurdo da guerra

Divulgação
Aaron Taylor-Johnson interpreta o soldado Isaac em 'Na Mira do Atirador'
Aaron Taylor-Johnson interpreta o soldado Isaac em 'Na Mira do Atirador'

NA MIRA DO ATIRADOR (muito bom)
(The Wall)
DIREÇÃO: Doug Liman
PRODUÇÃO: EUA, 2017, 14 anos
ELENCO: Aaron Taylor-johnson, John Cena, Laith Nakl
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O diretor americano Doug Liman tem no currículo filmes de grande orçamento, como "Identidade Bourne" (2002) e "Sr. e Sra. Smith" (2005), longas de ação que acertaram o alvo. Depois de passar os últimos 12 anos como produtor da badalada franquia "Jason Bourne", seu novo filme é uma grata surpresa.

"Na Mira do Atirador" tem um título no Brasil que é a descrição exata de sua trama, mas o nome original do filme é bem mais representativo: "The Wall". Porque um muro, ou o que resta dele, no meio do deserto do Iraque, é praticamente o personagem principal da trama.

O elenco tem três apenas atores, Aaron Taylor-Johson, o Mercúrio de "Os Vingadores", o brutamontes John Cena, um ex-superstar da WWF, a luta-livre americana, e o ator inglês Laith Nakli.

Issac (Taylor-Johnson) e Matthews (Cena) são dois soldados que se desgarram do pelotão para inspecionar uma área no deserto. Logo na primeira cena do filme, encontram nas ruínas de um vilarejo vários homens mortos e veículos abandonados.

Quando estão ali, são surpreendidos por tiros. Matthews cai, ferido com gravidade, e Isaac consegue se arrastar para ter abrigo atrás de um muro semidestruído. Mas não escapa ileso. Antes de chegar à proteção, leva um tiro na coxa. Uma bala atinge seu cantil, e outra danifica sua antena de rádio.

Isaac grita para conversar com o parceiro, que agoniza. A cada movimento que tenta para sair de onde está e se posicionar melhor para responder o fogo inimigo, outra saraivada de tiros o impede.

Ele vê que todos os corpos pelo lugar são de soldados executados com apenas um tiro certeiro. Usa então a antena do rádio de um deles para consertar o seu. Ao tentar contato de resgate, quem surge no rádio para conversar com ele é justamente o atirador iraquiano, que fala inglês fluente.

Tudo isso acontece nos primeiros minutos do filme, que é curto, uma hora e meia de duração. A partir daí, a trama se transforma em um jogo de terror psicológico. Isaac percebe que o inimigo está sozinho, mas não sabe exatamente de onde estão vindo os tiros, entre as muitas ruínas diante de seu muro protetor.

Com seu ferimento que piora a cada minuto, sem água e nenhuma perspectiva de socorro, Isaac vai travar um duelo verbal com o atirador enquanto tenta alguma solução engenhosa para escapar da morte que parece certa.

O filme tem algum "parentesco" com "Por um Fio" (2002), drama em que Colin Farrell interpreta um homem que não pode sair de uma cabine telefônica numa rua movimentada de Nova York. Como Isaac no deserto do Iraque, ele também está subjugado por um matador.

Assim, com cenário e elenco mínimos, Liman constrói um filme angustiante, que faz o espectador grudar na poltrona. Aaron Taylor-Johnson mostra potencial em uma atuação excepcional, fazendo o público embarcar em seu sofrimento e seu desespero.

Longe de ser uma produção rendida às convenções do cinema de ação. "Na Mira do Atirador" é um grande filme sobre o absurdo da guerra.

Trailer de 'Na Mira do Atirador'


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