Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'Bye Bye Alemanha' falha ao tentar fazer piada com o Holocausto

Fabrizio Maltese/Divulgação
Cena do filme 'Bye bye Alemanha', de Sam Garbarski
Cena do filme 'Bye bye Alemanha', de Sam Garbarski

BYE BYE ALEMANHA (regular)
(Es war einmal in Deutschland...)
DIREÇÃO Sam Garbarski
PRODUÇÃO Alemanha/Luxemburgo/Bélgica, 2017
ELENCO Moritz Bleibtreu, Antje Traue
Veja salas e horários de exibição

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Fazer piada com o Holocausto é tarefa que só a leveza de Charles Chaplin ou a ambição de Roberto Benigni de se comparar ao deus da comédia se permitiram.

"Bye Bye Alemanha" mete a mão nesse vespeiro sem contar com a habilidade desses antecedentes e o resultado não tem audácia nem graça.

O diretor Sam Garbarski tornou-se conhecido com "O Tango de Rashevski" (2003), no qual atualizava as ambiguidades da identidade judaica no mundo atual.

Em seu novo longa, o diretor aborda o tema pouco visitado do retorno de judeus à Alemanha ao fim da Segunda Guerra, com o país quase apagado pelos bombardeios aliados e o fim do delírio nazista.

O deslocamento do apogeu da política hitlerista de extermínio para o período do pós-guerra oferece um ângulo novo para um período histórico explorado à exaustão.

Vemos o sobrevivente David Bermann retornar ao país devastado, um lugar no qual ele tem muitos motivos para não querer permanecer. Além dos traumas pessoais e coletivos, a destruição à volta não oferece nenhuma perspectiva.

Enquanto tenta imigrar para os Estados Unidos, o protagonista lidera um grupo de trapaceiros com outros sobreviventes e, como um malabarista, enfrenta as ordens das autoridades militares que ocupam o país.

Em meio a esse presente incerto, Bermann é invadido por lembranças dos campos da morte enquanto é interrogado por uma investigadora americana.

Compreende-se a intenção do diretor de fugir da moldura trágica e tocar em temas espinhosos, como o colaboracionismo dos sobreviventes nos campos de extermínio.

Entretanto, mostrar prisioneiros gordinhos e viçosos em beliches é uma imagem que somente a encenação nazista no campo de Terezin já havia proposto para convencer o mundo da época que era "fake news" a história de que o regime de Hitler maltratava judeus.

O filtro do humor judaico produz reações menos sujeitas à polêmica nas situações em que Bermann trapaceia para obter vantagens, incluindo aspectos da astúcia humana que colocam a ética na corda bamba.

A vontade de parecer original, contudo, não leva a lugar nenhum na medida que "Bye Bye Alemanha" nunca avança fora dos limites, propõe um humor ajuizado, portanto, inócuo.

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