Folha de S. Paulo


Coleção traz ponto de vista de 30 escritoras sobre experiência humana

Divulgação
A escritora Clarice Lispector posa para foto em Berna, na Suíça
A escritora Clarice Lispector posa para foto em Berna, na Suíça

A Folha leva às bancas a Coleção Folha Mulheres na Literatura a partir do próximo domingo (20). São 30 livros, escritos por grandes autoras, que chegam ao público em meio ao movimento atual para dar mais destaque à mulher em todos os setores da indústria do livro.

"Há sem dúvida demanda por um olhar mais atento para a produção de diferentes grupos que ficaram obscurecidos ao longo da história e que atendem ao critério de qualidade literária de suas obras", diz Manuel da Costa Pinto, crítico literário, colunista da Folha e curador da coleção.

A coleção vai refletir o ponto de vista feminino no melhor da produção literária mundial em clássicos escritos por autoras como Jane Austen, Emily Brontë e Rachel de Queiroz, e em best-sellers de Isabel Allende e Agatha Christie.

Questões como a desigualdade de gênero e a condição de ser mulher no mundo estão presentes na coleção pelo próprio lugar de vivência das escritoras. Mas os livros selecionados não se limitam, no entanto, à condição da experiência feminina nem se destinam apenas às leitoras.

"A autora escreverá a partir do ponto de vista de onde contempla o mundo, mas obras de valor literário partem da condição individual e refletem todo o conjunto da experiência humana", afirma Costa Pinto.

É o caso de Madame de La Fayette, uma das pioneiras do romance que, na França do século 17, retratou restrições sociais impostas pelo casamento e o adultério como pano de fundo para discutir a autonomia do indivíduo frente às paixões.

Também se nota a questão da autonomia do sujeito, mas sob o viés político, no livro "Depressões", da romena Herta Müller, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2009.

Simone de Beauvoir e Virginia Woolf também estão presentes na coleção e trazem questões intrínsecas à condição sobre ser mulher no mundo, ao lado de outros nomes menos conhecidos, como a americana de origem bengali Jhumpa Lahiri e a indiana Thrity Umrigar.

As duas últimas "trazem referências étnicas e culturais que associam a condição feminina a contextos de profunda desigualdade social", diz o curador da coleção.

Em língua portuguesa, o olhar desafiador sobre a realidade parte de autoras como Nélida Piñon (a primeira a presidir a Academia Brasileira de Letras), Lya Luft e Maria Adelaide Amaral, além da portuguesa Florbela Espanca.

Esta representa com excelência a poesia na coleção, ao lado da americana Emily Dickinson, que estará entre os dois volumes de estreia da nova coleção.

Em seu lançamento, a Coleção Folha Mulheres na Literatura traz duas obras: "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector e "Poemas Escolhidos", de Dickinson.

"Ambas apontam simbolicamente para diferentes registros que a coleção contempla. Uma poeta que pertence ao cânone da literatura ocidental e uma prosadora brasileira que, por escrever em português, só recentemente atingiu o mesmo status de prestígio mundial", diz Costa Pinto.


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