Folha de S. Paulo


Luc Besson diz que não liga para dinheiro após fazer filme milionário

"Eu não ligo muito para dinheiro. De que adianta ter três carros se você só tem duas mãos? Devo ficar com mais dinheiro e mais gente ficará pobre? Não faz sentido. Tenho algum dinheiro para uma vida boa, não preciso de mais. Tenho essa camiseta, essa jaqueta, meus óculos escuros."

Quem fala é o cineasta francês Luc Besson, 57, que torrou US$ 180 milhões (cerca de R$ 566 mi) em "Valerian e a Cidade dos Mil Planetas", que estreia nesta quinta (10).

É o filme mais caro já produzido fora dos Estados Unidos, e tem fracassado nas bilheterias –arrecadou até agora metade desse valor. Pode ser salvo pelo mercado chinês.

O segundo da lista também é francês, mas "Asterix nos Jogos Olímpicos" fica bem atrás, com custo de US$ 113 milhões.

Em visita ao Brasil para divulgar o filme, ao lado do ator americano Dane DeHaan, 31, que interpreta o policial do futuro Valerian, Besson insiste que lidar com cifra tão alta não o deixa obcecado.

"Se fosse movido pelo dinheiro, faria filmes americanos em Hollywood", diz o diretor à Folha. "Se você observar meus 17 filmes, tem filme em preto e branco, Joana D'Arc de heroína, são bem diferentes. Sou um artista, um pintor. Minha meta é ser feliz."

Baseado em série francesa de quadrinhos lançada em 1967, "Valerian et Laureline", de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières, o filme mostra um casal de policiais no século 28 tentando salvar a gigantesca estação espacial Alpha.

O filme levou sete anos para ser produzido. Nesse período, algumas cenas foram refeitas porque a tecnologia se desenvolveu e proporcionou melhores efeitos visuais. A influência de "Avatar" é clara.

A beleza impressiona, mas o roteiro é simples. Besson reconhece, mas diz que os personagens têm um comportamento que continua adequado nos dias atuais.

"O relacionamento com os alienígenas é carinhoso, bem diferente de outras histórias de ficção científica, principalmente nos Estados Unidos, onde os aliens são sempre os vilões. O enredo é moderno. O que pode ser antiquado no gibi é o design da espaçonave, cheia de botões. Tivemos que levar isso para outro nível."

Em seu outro filme de ficção, "O Quinto Elemento" (1997), Besson contou com Bruce Willis. Desta vez, opta por um casal ainda a caminho do estrelato, DeHaan e a inglesa Cara Delevingne, 24. Ele foi visto neste ano nos cinemas no thriller "A Cura". Ela faz um filme atrás do outro para definir sua passagem de top model para atriz.

"Cara é uma boa atriz. Eu entendo disso. Trabalhei com Natalie Portman aos 11 anos e Milla Jovovich aos 19. Cara vai chegar lá", aposta Besson.

Sobre DeHaan ser magrinho e bem diferente dos atores normalmente escalados nesse filmes, o diretor francês até se exalta. "Dane era o melhor para o que imaginei desse personagem. Faz piadas, é pretensioso às vezes, é muito humano. Não é um grande herói, é um policial. Na vida real, eu nunca vi um policial como Schwarzenegger."

DeHann diz que nunca foi tão exigido fisicamente e que ficou na melhor forma de sua vida para as filmagens. "Valerian não é o grandão, não vai resolver na porrada, precisa ter esperteza. Ele é um cara que deseja ganhar a garota."

"O Quinto Elemento" e "Valerian" são visões do futuro coloridas, brilhantes, esperançosas. Besson concorda. "Se eu não acreditasse num futuro melhor já teria me matado. O passado já está escrito. O presente, nós temos que lidar com ele. O futuro é uma folha de papel em branco. Por que eu deveria ter medo de uma folha em branco?"


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