Folha de S. Paulo


Filme brasileiro 'Malasartes' tem 50% das cenas com efeitos especiais

Divulgação
Jesuíta Barbosa no set de 'Malasartes e o Duelo com a Morte
Jesuíta Barbosa no set de 'Malasartes e o Duelo com a Morte'

Os primeiros 15 minutos de "Malasartes e o Duelo com a Morte" podem enganar quem entrar no cinema atrás do que se alardeia como o filme brasileiro com maior quantidade de efeitos especiais da história da produção nacional.

A sequência inicial pode até soar como revisita a paragens desgastadas. Há o universo rural com os seus signos, a mocinha brejeira, os erres caipiras e o matuto safo, vivido por Jesuíta Barbosa.

É quando surgem os domínios da Morte, interpretada por Julio Andrade, que o longa de Paulo Morelli revela os R$ 4,5 milhões despendidos só nos efeitos visuais, presentes em 50% das cenas. O orçamento total do filme, que entra em cartaz nesta quinta (10), é de R$ 13 milhões.

Em seus recônditos, a Morte voa e paira em cena num piscar de olhos. Quando Pedro Malasartes (Jesuíta) aparece por lá, ele também plana e brinca com as milhares de velas que representam cada vida humana no plano terreno. Numa das cenas, o personagem é tragado por várias delas, que pululam por ali.

A recriação digital desse universo demandou uma equipe de cem pessoas, nos cálculos de Morelli, além de mais de dois anos só para fazer a pós-produção do filme.

Cordas amarradas aos corpos dos atores ajudaram a criar a ilusão dos voos livres. Já o "chroma key", o fundo verde, foi usado para criar os cenários fantásticos do filme.

"Foi difícil porque muito disso era novo no país. Ninguém sabia exatamente como resolver", diz o diretor. Ajudou o fato de que a O2, produtora da qual Morelli é sócio, ter um braço na publicidade, área em que efeitos especiais não são novidade.

Ele esmiúça o trabalho: só entre a última quinta (2) e o domingo (6), quando "Malasartes" estreou no festival Cine Ceará, mais de cem cenas foram "retrabalhadas", diz.

Em 2015, quando a Folha visitou o set do longa, no interior de São Paulo, Morelli disse que esperava ecoar algo de Tim Burton e da trilogia "O Senhor dos Anéis", do neozelandês Peter Jackson.

Ele emenda: "Mas com elementos brasileiros". As Parcas, personagens da mitologia grega que no longa são lideradas por Vera Holtz, foram inspiradas em rendeiras do Nordeste, por exemplo.

'MALANDRO ÉTICO'

Na trama, Jesuíta interpreta o malandro Malasartes, figura picaresca oriunda do folclore ibérico que já foi vivida por Mazzaropi no cinema e por Renato Aragão na TV.

Entre um pequeno golpe aqui e outro ali, o trapaceiro tem que se ver com o enfezado irmão de sua noiva (Isis Valverde), vivido por Milhem Cortaz, e com a própria Morte, que anda exausta de seu cargo de ceifar vidas e quer que o malandro a substitua.

Também estão no elenco Leandro Hassum, como o ajudante trapalhão da Morte, e Augusto Madeira, como uma das vítimas do protagonista.

"Malasartes é um pícaro, mas não cruza o limite ético, não vira canalha", diz o diretor. "Ele tem muito do brasileiro, que vive do improviso."

É pela brasilidade, mais do que pela exuberância visual, que ele espera atrair público. "Aposto na pureza dele nesta época de tanto cinismo."


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