Folha de S. Paulo


Elza Soares empolga plateia no Central Park, em Nova York

Livia Sá/Divulgação
Elza Soares se apresenta no Central Park, em Nova York
Elza Soares se apresenta no Central Park, em Nova York

O sol de verão brilhava por volta das 18h e a fila já era longa para o show de sábado à noite, no Central Park, em Nova York. Muitos brasileiros, mas também americanos, queriam ver Elza Soares, a "destemida e venerada lenda do samba", como a chamou o "New York Times".

Ela subiu ao palco em torno das 21h, depois da abertura da noite, com a energética Liniker e seus Caramelows. Sentada no trono, atacou o repertório do show "A Mulher do Fim do Mundo", baseado no álbum com o mesmo título, de 2015 ­â€“o 34º de sua carreira e o primeiro só com canções inéditas.

Se algum desavisado esperava uma apresentação de samba tradicional, com pandeiro e cavaquinho, deve ter se assustado. A Elza do "Fim do Mundo" é uma fênix que mais uma vez renasceu, agora pelas mãos "desse grupo talentosíssimo de músicos paulistas"­ –como ela disse no palco do Brasil Summerfest, uma seção do Summer Stage, que acontece todo verão no parque nova-iorquino.

O disco marca o encontro da cantora popular carioca com músicos da vanguarda contemporânea paulistana, como o baterista e produtor Guilherme Kastrup, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci, Rômulo Fróes e Celso Sim.

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"Incrível e inspirador", disse à Folha um extasiado David Byrne, espécie de embaixador da música brasileira em Nova York, após o show. "O que ela está fazendo é inovador e atual. E quando se chega nessa idade, você diz o que quer, não precisa hesitar."

Elza, de fato, não hesitou. Puxou várias vezes o coro de "Fora, Temer" e "Diretas-Já" (manifestantes antigoverno levaram cartazes e faixas) e prestou sua homenagem a Luiz Melodia: "Perdemos Luiz, um negro que merece a nossa saudação. Vai com Deus, Luiz; vai com Deus, Luiz", repetiu, sob aplausos.

A referência ao cantor e compositor carioca, que morreu na sexta-feira (6), veio durante a apresentação de "A Carne", de Seu Jorge, Marcelo Yuca e Ulisses Cappelletti: "A carne mais barata do mercado é a carne negra / Que vai de graça pro presídio / E para debaixo de plástico / Que vai de graça pro subemprego / E pros hospitais psiquiátricos".

"A Mulher do Fim do Mundo" começou como um projeto de Kastrup para um álbum de regravações de sambas cantados por Elza. Só que ela preferiu inéditas. Contudo, velhos sambas, como "Volta por Cima" (Paulo Vanzolini) e "Malandro", de Jorge Aragão, aparecem no show.


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