Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Mambembe, 'Na Rota do Vinho' traz tipos franceses extravagantes

Divulgação
Gérard Depardieu e Solène Rigot em cena de 'Saint Amour - Na Rota do Vinho'
Gérard Depardieu e Solène Rigot em cena de 'Saint Amour - Na Rota do Vinho'

SAINT AMOUR - NA ROTA DO VINHO (regular)
DIREÇÃO Benoît Delépine e Gustave Kervern
ELENCO Gérard Depardieu, Benoît Poelvoorde e Vincent Lacoste
PRODUÇÃO França/Bélgica, 2016, 14 anos
Veja salas e horários de exibição

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Um desses acasos da exibição colocou sucessivamente em cartaz três filmes em que os personagens põem o pé na estrada e perambulam França adentro. Depois da viagem turística de "Paris Pode Esperar" e do pacote político de "Tour de France", "Saint Amour - Na Rota do Vinho" percorre um pouco o país que a gente não encontra no guia "Michelin".

Um ponto de vista ranzinza, de crítico hipnotizado pelo horizonte perdido, diagnosticaria esse acúmulo como prova da falta de imaginação dos roteiristas e cineastas de hoje.

A aproximação pela fórmula também permite ver como o mesmo tipo de trama revela os temperamentos e projetos distintos de cada realizador, evidencia o que se busca e se vale ou não embarcar nessas viagens.

Quem se sentir atraído pela promessa de passeio ameno e degustativo pela rota do vinho é melhor procurar um programa desse tipo na TV, pois "Saint Amour" só mostra vinhedos ao longe e o filme tende ao porre quando seus personagens bebem.

Também não se trata de uma versão francesa da viagem etílica e erótica de "Sideways - Entre Umas e Outras" (2004), mas de um recurso narrativo para aproximar um trio de personagens forçados a conviver, registrar os ruídos que eles fazem, despertar simpatias e incômodos.

A dupla de diretores e roteiristas Benoît Delépine e Gustave Kervern (a mesma de "Mamute", 2010) tem o gosto por tipos extravagantes e situações inesperadas, à beira do surrealismo. Aqui, essa combinação se reafirma no encontro de um criador de bois de raça, seu filho, um adulto criança sem eira nem beira, e um motorista que descobre e abandona a paixão de sua vida a cada esquina.

Jean, o pai, é interpretado por Gérard Depardieu com seu atual físico bovino. Bruno, o filho, ganha o reforço de Benoît Poelvoorde, ator belga capaz de dar corpo com a mesma naturalidade a um assassino cruel, a Deus entediado ou a um executivo apaixonado. Vincent Lacoste, que empresta fragilidade e sedução ao papel mais ingrato do motorista Mike, intromete-se como um peso pena entre dois pesos pesados.

Quem só aprecia coesão e progressão narrativa pode achar que o filme vai do nada ao lugar nenhum.

O cinema de Delépine e Kervern também pode incomodar os que buscam arte, essa especialidade tão francesa. Seus filmes são mais circenses, mambembes, mais interessados no improviso e, por isso, nas fagulhas de autenticidade.

"Saint Amour" explora isso na forma dos encontros com personagens femininas, representadas em imagens que nossa atual moral condenará sumariamente.

Delépine e Kervern, também roteiristas, no entanto, não filmam se preocupando com julgamentos. Preferem embarcar sem saber aonde ir, dar risadas da seriedade, fazer cinema mais por diversão do que para dar lições.

Assista ao trailer de 'Saint Amour - Na Rota do Vinho'

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