Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Sequência está a anos-luz do 'Planeta dos Macacos' original

PLANETA DOS MACACOS:
A GUERRA (ruim)
(War for the Planet of the Apes)
DIREÇÃO Matt Reeves
ELENCO Andy Serkis, Woody Harrelson, Steve Zahn
PRODUÇÃO EUA, 2017, 14 anos
Veja salas e horários de exibição

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Basta ver a primeira imagem para saber do que se trata. No capacete de um soldado está escrito "mata-macacos". Os outros soldados aparecem: trata-se do cerco de um grupo armado aos símios comandados por César.

Não leva cinco minutos e já sabemos do que se trata: de um faroeste reciclado. No caso, não são brancos que enfrentam índios. O combate entre humanos e macacos servirá como metáfora para os confrontos entre americanos e iraquianos, israelenses e palestinos, cristãos e muçulmanos...

Tudo ou todo lugar em que se perca a dimensão do adversário como semelhante serve, no caso. Como Hollywood é liberal –no sentido americano da palavra– ninguém se espantará de saber que à frente dos soldados está o vilão da história, o Coronel de Woody Harrelson, branco e temível. A ele caberá matar a única fêmea do filme (e que mal aparece, diga-se: a mulher de César). Estamos em um filme masculino por excelência.

Se o Coronel pode lembrar o insano general do "Dr. Fantástico" de Stanley Kubrick, o restante abrirá seu leque para outras paragens: haverá um pouco de aventura romana, um tanto de "Spartacus", de Egito, de nazismo (e suas extensões) e de Dez Mandamentos.

Ou seja: como se trata de raspar o tacho, é preciso vasculhar mais ou menos todas as tradições conhecidas. E a fabulosa saga inaugurada um dia (de 1968) por Franklin Schaffner, em que o homem viajava em busca de si mesmo, um si mesmo que talvez estivesse no outro, nos símios. Muitas sequências inúteis depois, Tim Burton retomou a saga com muita dignidade (em 2001).

O certo é que hoje, após algumas novas acrobacias, chega-se ao estágio de esgotamento total, em que o 3D e a semelhança cada vez maior dos macacos do filme com os macacos reais lutam para produzir algum interesse na batalha do macaco César e seus liderados para chegar a um convívio pacífico com os humanos. O 3D parece entrar para demonstrar que não serve para grande coisa.

Se excetuarmos Harrelson, bem como sempre, e alguns efeitos, inclusive uma explosão um tanto apocalíptica, esta nova incursão ao esgotado planeta dos macacos é de visão perfeitamente dispensável. Nada de ideia ou de invenção. Em nenhum sentido. Pois a série já nos mostrou o macaco rebelde. Agora é a vez do coronel psicopata. Ou seja: é sempre um "outsider" que entorna o caldo.

Estamos a alguns planetas de distância do filme original. Agora a ordem, seja a dos homens, seja a dos macacos, é sempre boa. Quem quiser que aceite.

Assista ao trailer de 'Planeta dos Macacos: A Guerra'

Assista ao trailer de 'Planeta dos Macacos: A Guerra'


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