Folha de S. Paulo


Mostra reúne obras e revela o processo criativo de ilustradores de livros

Amanda Costa/Divulgação
Detalhe da exposição 'Linha de Histórias', que reúne sete artistas que trabalham com o livro ilustrado
Detalhe da exposição 'Linha de Histórias', que reúne sete artistas que trabalham com o livro ilustrado

A palavra "planeta" abarca a ideia de errância em sua origem. São também "astros errantes" os artistas destacados na exposição "Linhas de Histórias - O Livro Ilustrado em Sete Autores", no Sesc Santo André.

Na mostra, com curadoria de Stela Barbieri, Odilon Moraes e Fernando Vilela, cada artista fica em uma área, chamada pelos curadores de planetas, simbolizando o vagar do processo criativo do livro ilustrado, cada vez mais presente no mercado editorial.

Livro ilustrado não é o mesmo que livro com ilustração. Nele há a conjunção entre palavra, imagem e materialidade do objeto. Assim como o cinema inexiste só com o som, o livro ilustrado não funciona sem a imagem.

Este é um tema ainda a ser explorado, segundo os curadores. "Onde se estuda isso? Nas artes [plásticas] ou na literatura? Esses autores trabalham entre esses dois territórios", diz Moraes, autor de obras premiadas voltadas ao público infantil.

Mas o livro ilustrado, assim como a exposição, não é voltado apenas às crianças.

Obras de autores como Angela-Lago, Andrés Sandoval e Renato Moriconi, três dos sete artistas na mostra, apesar de ganharem o selo de infantil, extrapolam o limite dessa faixa etária.

O espanhol Javier Zabala, que cria um contraponto entre a ilustração brasileira e a europeia, evidenciando uma paleta de cores menos vibrante, é autor de livro ilustrado para adulto.

"Na Europa, há 20 anos, o mercado do livro ilustrado para esse público é bem estabelecido", conta Vilela, também premiado ilustrador.

Na exposição, cada plataforma (ou planeta) tem estruturas bem diversas –circular, vertical, com transparência–, que refletem os pensamentos gráfico e narrativo dos autores. Em cada uma delas, estão os rastros dos artistas quando debruçados sobre suas criações.

O visitante observa as muitas sobreposições que Eva Furnari faz num mesmo rascunho, recortando um pedaço de esboço e colando-o em outro, e espia os cadernos criativos de Roger Mello, bastante experimental, vencedor do Hans Christian Andersen, o Nobel da literatura infantil.

O mineiro Nelson Cruz tem sua obra em uma plataforma marcada pela verticalidade, remetendo aos mergulhos que esse artista-pesquisador faz no percurso criativo. No espaço, ganha destaque "A Árvore do Brasil" (ed. Peirópolis), livro sem palavras (e, claro, cheio de narrativas), que tem uma árvore secular como testemunha da história do país.

"Aqui estão os caminhos que a gente traça ao fazer livro, a partir do menor rabisco, do esboço que vira estudo, do estudo que vira layout e do layout que vira o original e que, depois, se transforma no livro impresso", conta Cruz.

Na sua plataforma, gavetas podem ser exploradas. Elas evidenciam os caminhos que o artista percorre para "cercar dúvidas", como define suas investigações.

PONTES

Entre um plataforma e outra, os curadores criaram uma espécie de ponte que ajuda os visitantes nas conexões entre os artistas, a partir de comentários de um sobre a obra do outro e as referências artísticas que os aproximam.

Num diálogo entre diferentes gerações, é Renato Moriconi quem melhor define o veterano Nelson Cruz: "mestre da perspectiva".

"Tudo aqui é processo. Isso aqui é pesquisa, isso aqui é rascunho, isso aqui é aquarela, mas tudo faz parte de um processo. O original é a obra, o livro, que está lá na biblioteca", diz Moraes, indicando a área onde ficam as obras tratadas na mostra que estão disponíveis para leitura.

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LINHAS DE HISTÓRIAS - O LIVRO ILUSTRADO EM SETE AUTORES
ONDE Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302, Vila Guiomar)
QUANDO até 26/11; grátis


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